31 dezembro 2008

Receita de Ano Novo

Foto da Internet

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


©Carlos Drummond de Andrade


*** FELIZ ANO-BEBÊ para TODOS!!! ***




Amor pra recomeçar
Frejat
Composição: Frejat/Mauricio Barros/Mauro Sta. Cecília


Eu te desejo
Não parar tão cedo
Pois toda idade tem
Prazer e medo...

E com os que erram
Feio e bastante
Que você consiga
Ser tolerante...

Quando você ficar triste
Que seja por um dia
E não o ano inteiro
E que você descubra
Que rir é bom
Mas que rir de tudo
É desespero...

Desejo!
Que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor
Prá recomeçar
Prá recomeçar...

Eu te desejo muitos amigos
Mas que em um
Você possa confiar
E que tenha até
Inimigos
Prá você não deixar
De duvidar...

Quando você ficar triste
Que seja por um dia
E não o ano inteiro
E que você descubra
Que rir é bom
Mas que rir de tudo
É desespero...

Desejo!
Que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor
Prá recomeçar
Prá recomeçar...

Eu desejo!
Que você ganhe dinheiro
Pois é preciso
Viver também
E que você diga a ele
Pelo menos uma vez
Quem é mesmo
O dono de quem...

Desejo!
Que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor
Prá recomeçar...

Eu desejo!
Que você tenha a quem amar
E quando estiver bem cansado
Ainda, exista amor
Prá recomeçar
Prá recomeçar
Prá recomeçar...

29 dezembro 2008

Canção Amiga

Pintura: ©Renoir

Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.

Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não me vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.

Eu distribuo um segredo
como quem ama ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.

Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.

©Carlos Drummond de Andrade


Milton Nascimento - Canção Amiga


24 dezembro 2008

E então chegou o Natal... ( So This Is Christmas )

Ilustração: ©Elivia Savadier


So this is Christmas
Então já é Natal
And what have you done?
E o que você tem feito?
Another year over
Um outro ano se encerra
And you won’t just become
E um novo ano está chegando


And so this is Christmas
Pois é... já é Natal
I hope you have fun
Eu espero que você se divirta
The near and the dear ones
Com seus entes mais queridos
The old and the young
Que se divirta o jovem e o velho


A Very Mary Christmas
Um Feliz Natal
And a happy New Year
E feliz Ano Novo
Let's hope is a good one
Vamos esperar que seja bom de verdade
Without any fear
Sem nenhum temor


And so this is Christmas
Pois é... já é Natal
For weak and for strong
Para o fraco e para o forte
For rich and the poor ones
Para ricos e pobres
The world is so wrong
Nesse mundo que está tão errado


And so Happy Christmas
Mesmo assim tenha um Feliz Natal
For black and for white
Para negros e para brancos
For yellow and red ones
Para amarelos e vermelhos
Let's stop all the fight
Vamos para com toda guerra

A Very Mary Christmas
Um Feliz Natal
And a happy New Year
E feliz Ano Novo
Let's hope is a good one
Vamos esperar que seja bom de verdade
Without any fear
Sem nenhum temor


So this is Christmas
Então já é Natal
And what have we done?
E o que nós temos feito?
Another year over
Um outro ano se encerra
And you won’t just become
E um novo ano está chegando


And so Happy Christmas
Então, um Feliz Natal
I hope you have fun
Eu espero que você se divirta
The near and the dear ones
Com seus entes mais queridos
The old and the young
Que se divirta o jovem e o velho


A Very Mary Christmas
Um Feliz Natal
And a happy New Year
E feliz Ano Novo
Let's hope is a good one
Vamos esperar que seja bom de verdade
Without any fear
Sem nenhuma lágrima


War is over
A guerra acabou
If you want it
Se você quiser
War is over
A guerra acaba
Now
Agora

©John Lennon


John Lennon - And so this is Christmans

20 dezembro 2008

A música de cada um

Ilustração: ©Elivia Savadier

Há no coração de cada um de nós, por essência, uma música que é somente nossa, inigualável, intransferível. Por várias razões, conhecidas ou não, às vezes aprendemos desde muito cedo a diminuir, gradativamente, o seu volume e a inventar ruídos que nada tem a ver com ela para nos relacionarmos com nós mesmos e com os outros. Até que chega um tempo em que desaprendemos a entrar no nosso próprio coração para ouvi-la e, porque não passeamos mais nele, porque não a ouvimos mais, não é raro esquecermos completamente que ela existe. Mas, como toda ignorância, toda indiferença, toda confusão, não são capazes de apagar a beleza original dessa partitura impressa na alma, ela continua tocando, ainda que de forma imperceptível. Continua tocando, à espera do dia em que, de novo ou pela primeira vez, possamos aumentar o seu volume, trazê-la à tona, compartilhá-la. Continua tocando, e alguns são capazes de ouvi-la mesmo quando não conseguimos.

Todo encontro genuíno de amor é também o encontro de duas pessoas que conseguem ouvir a música uma da outra e sentir alegria e descanso com aquilo que ouvem. Conseguem ouvir, não importa quantos ruídos tenham inventado pelo caminho, tantas vezes para se proteger da dor afastando a vida.

©Ana Jácomo


12 dezembro 2008

Simples

Ilustração: ©Janice Fried

Quero que a menina me tome pelas mãos
e me ensine, de novo, a correr pela vida
sem cuidados ou medida.

Quero um tempo de mim,
com asas e borboletas
brotando pelos jardins.

Um tempo de ressonâncias
e sonhos abertos ao vento -
invisível companheiro da memória...

Quero, outra vez,
sentar à sombra das árvores,
abrir portas
para histórias encantadas
e decorar o céu
em seu bordado de estrelas.

Porque
há um sentido em cada coisa,
e viver pode ser simples
como uma flor...


©Rose


06 dezembro 2008

Felicidade

Pintura: ©Adriana Franciss

Ser feliz é algo que está dentro da gente
somos felizes porque somos
Por que assim decidimos ser
independe de outras pessoas
Ou de sentimentos pra com outros
ou de realizações pessoais

É um sentimento que permanece
Independente do movimento da vida
Uma decisão pessoal e irrevogável
Ser feliz é uma necessidade vital.

Ser feliz em si mesmo,
Com a imagem que tem em seu espelho
Com a pessoa que se tornou
A felicidade é forte em si mesmo
Um estado de espirito das almas infantis
Que permanece por toda uma vida

Portanto nunca se esqueça
Que tem tudo pra ser
A pessoa mais feliz do mundo
Pela pessoa que é
E ainda virá a ser!

©Adriana Franciss


Para ver mais trabalhos da autora acesse AQUI


Marisa Monte - Bem Que Se Quis

30 novembro 2008

22 novembro 2008

Tempo e palavra

Pintura: ©Paulo Porcella


A maravilha custa caro

o tempo de viver
é o lugar
da elegia
e do milagre

as estrelas cadentes
são nossas irmãs

é preciso devolver
a Deus
a vida emprestada

o que nos vale
nesse desamparo?

a escrita introspectiva
e visceral
do poema
remete ao silêncio
e ao desapego
de tudo que é vaidade

de que tempo nos fala
o poema?
certamente não daquele
que se conta em ampulheta

fala de experiência outra
o coração abrangente
das coisas do mundo
que é o saber próprio
e instransferível
da poesia

é preciso que alguém
desvele o inefável
mostre o que vai além
procure com ternura
o território delicado

o poeta fala por nós
e para nós

a ele devemos
o supremo esforço
de traduzir o que se perde
na neblina

a face da palavra
me salva
na escuridão
do mundo

©Jorge Adelar Finatto

Em "Memorial da Vida Breve"


Acesse outros poemas do Autor: AQUI
Site do Ilustrador: Paulo Porcella

Menorial da Vida Breve é um lindo livro de poemas,
ricamente ilustrado que ganhei na viagem ao Sul,
do Carlos e da Mariana.

Aos queridos primos, o meu muito obrigada!

18 novembro 2008

Minha Oração ...

Fotografia: Carol Timm

Que eu continue a acreditar no outro mesmo sabendo
que alguns valores esquisitos permeiam o mundo;
Que eu continue otimista, mesmo sabendo
que o futuro que nos espera nem sempre é tão alegre;
Que eu continue com a vontade de viver,
mesmo sabendo que a vida é, em muitos momentos,
uma lição difícil de ser aprendida;
Que eu permaneça com a vontade de ter grandes amigos,
mesmo sabendo que com as voltas do mundo,
eles vão indo embora de nossas vidas;
Que eu realimente sempre a vontade de ajudar as pessoas,
mesmo sabendo que muitas delas são incapazes
de ver, sentir, entender ou utilizar esta ajuda;

Que eu mantenha meu equilíbrio, mesmo sabendo
que os desafios são inúmeros ao longo do caminho;
Que eu exteriorize a vontade de amar,
entendendo que amar é um sentimento de doação;
Que eu sustente a luz e o brilho no olhar, mesmo sabendo
que muitas coisas que vejo no mundo, escurecem meus olhos;
Que eu retroalimente minha garra, mesmo sabendo
que as minhas derrotas e perdas são ingredientes tão fortes
quanto os meus sucessos e alegrias;

Que eu atenda sempre mais à minha intuição,
que sinaliza o que de mais autêntico possuo;
Que eu pratique sempre mais o sentimento de justiça,
mesmo em meio à turbulência dos interesses;
Que nunca perca o meu forte abraço, e o distribua sempre;
Que eu perpetue a beleza e o brilho de ver,
mesmo sabendo que as lágrimas também brotam dos meus olhos;
Que continue manifestando o amor por minha família,
mesmo sabendo que ela muitas vezes
me exige muito para manter sua harmonia;

Que eu acalente a vontade de ser grande, mesmo sabendo
que minha parcela de contribuição no mundo é pequena;
E, acima de tudo.. Que eu lembre sempre que todos nós fazemos
parte desta maravilhosa teia chamada Vida,
criada por Alguém bem superior a todos nós!
E que as grandes mudanças não ocorrem por grandes feitos
de alguns e, sim, nas pequenas parcelas cotidianas de todos nós!

Chico Xavier

05 novembro 2008

Eu Tenho um Sonho

Foto da Internet

Discurso de Martin Luther King (28/08/1963)

"Eu estou contente em unir-me com vocês no dia que entrará para a história como a maior demonstração pela liberdade na história de nossa nação.

Cem anos atrás, um grande americano, na qual estamos sob sua simbólica sombra, assinou a Proclamação de Emancipação. Esse importante decreto veio como um grande farol de esperança para milhões de escravos negros que tinham murchados nas chamas da injustiça. Ele veio como uma alvorada para terminar a longa noite de seus cativeiros.
Mas cem anos depois, o Negro ainda não é livre.
Cem anos depois, a vida do Negro ainda é tristemente inválida pelas algemas da segregação e as cadeias de discriminação.
Cem anos depois, o Negro vive em uma ilha só de pobreza no meio de um vasto oceano de prosperidade material. Cem anos depois, o Negro ainda adoece nos cantos da sociedade americana e se encontram exilados em sua própria terra. Assim, nós viemos aqui hoje para dramatizar sua vergonhosa condição.

De certo modo, nós viemos à capital de nossa nação para trocar um cheque. Quando os arquitetos de nossa república escreveram as magníficas palavras da Constituição e a Declaração da Independência, eles estavam assinando uma nota promissória para a qual todo americano seria seu herdeiro. Esta nota era uma promessa que todos os homens, sim, os homens negros, como também os homens brancos, teriam garantidos os direitos inalienáveis de vida, liberdade e a busca da felicidade. Hoje é óbvio que aquela América não apresentou esta nota promissória. Em vez de honrar esta obrigação sagrada, a América deu para o povo negro um cheque sem fundo, um cheque que voltou marcado com "fundos insuficientes".

Mas nós nos recusamos a acreditar que o banco da justiça é falível. Nós nos recusamos a acreditar que há capitais insuficientes de oportunidade nesta nação. Assim nós viemos trocar este cheque, um cheque que nos dará o direito de reclamar as riquezas de liberdade e a segurança da justiça.

Nós também viemos para recordar à América dessa cruel urgência. Este não é o momento para descansar no luxo refrescante ou tomar o remédio tranqüilizante do gradualismo.
Agora é o tempo para transformar em realidade as promessas de democracia.
Agora é o tempo para subir do vale das trevas da segregação ao caminho iluminado pelo sol da justiça racial.
Agora é o tempo para erguer nossa nação das areias movediças da injustiça racial para a pedra sólida da fraternidade. Agora é o tempo para fazer da justiça uma realidade para todos os filhos de Deus.

Seria fatal para a nação negligenciar a urgência desse momento. Este verão sufocante do legítimo descontentamento dos Negros não passará até termos um renovador outono de liberdade e igualdade. Este ano de 1963 não é um fim, mas um começo. Esses que esperam que o Negro agora estará contente, terão um violento despertar se a nação votar aos negócios de sempre.

Mas há algo que eu tenho que dizer ao meu povo que se dirige ao portal que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistar nosso legítimo direito, nós não devemos ser culpados de ações de injustiças. Não vamos satisfazer nossa sede de liberdade bebendo da xícara da amargura e do ódio. Nós sempre temos que conduzir nossa luta num alto nível de dignidade e disciplina. Nós não devemos permitir que nosso criativo protesto se degenere em violência física. Novamente e novamente nós temos que subir às majestosas alturas da reunião da força física com a força de alma. Nossa nova e maravilhosa combatividade mostrou à comunidade negra que não devemos ter uma desconfiança para com todas as pessoas brancas, para muitos de nossos irmãos brancos, como comprovamos pela presença deles aqui hoje, vieram entender que o destino deles é amarrado ao nosso destino. Eles vieram perceber que a liberdade deles é ligada indissoluvelmente a nossa liberdade. Nós não podemos caminhar só.

E como nós caminhamos, nós temos que fazer a promessa que nós sempre marcharemos à frente. Nós não podemos retroceder. Há esses que estão perguntando para os devotos dos direitos civis, "Quando vocês estarão satisfeitos?"

Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto o Negro for vítima dos horrores indizíveis da brutalidade policial. Nós nunca estaremos satisfeitos enquanto nossos corpos, pesados com a fadiga da viagem, não poderem ter hospedagem nos motéis das estradas e os hotéis das cidades. Nós não estaremos satisfeitos enquanto um Negro não puder votar no Mississipi e um Negro em Nova Iorque acreditar que ele não tem motivo para votar. Não, não, nós não estamos satisfeitos e nós não estaremos satisfeitos até que a justiça e a retidão rolem abaixo como águas de uma poderosa correnteza.

Eu não esqueci que alguns de você vieram até aqui após grandes testes e sofrimentos. Alguns de você vieram recentemente de celas estreitas das prisões. Alguns de vocês vieram de áreas onde sua busca pela liberdade lhe deixaram marcas pelas tempestades das perseguições e pelos ventos de brutalidade policial. Você são o veteranos do sofrimento. Continuem trabalhando com a fé que sofrimento imerecido é redentor. Voltem para o Mississippi, voltem para o Alabama, voltem para a Carolina do Sul, voltem para a Geórgia, voltem para Louisiana, voltem para as ruas sujas e guetos de nossas cidades do norte, sabendo que de alguma maneira esta situação pode e será mudada. Não se deixe caiar no vale de desespero.

Eu digo a você hoje, meus amigos, que embora nós enfrentemos as dificuldades de hoje e amanhã. Eu ainda tenho um sonho. É um sonho profundamente enraizado no sonho americano.

Eu tenho um sonho que um dia esta nação se levantará e viverá o verdadeiro significado de sua crença - nós celebraremos estas verdades e elas serão claras para todos, que os homens são criados iguais.

Eu tenho um sonho que um dia nas colinas vermelhas da Geórgia os filhos dos descendentes de escravos e os filhos dos desdentes dos donos de escravos poderão se sentar junto à mesa da fraternidade.

Eu tenho um sonho que um dia, até mesmo no estado de Mississippi, um estado que transpira com o calor da injustiça, que transpira com o calor de opressão, será transformado em um oásis de liberdade e justiça.

Eu tenho um sonho que minhas quatro pequenas crianças vão um dia viver em uma nação onde elas não serão julgadas pela cor da pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia, no Alabama, com seus racistas malignos, com seu governador que tem os lábios gotejando palavras de intervenção e negação; nesse justo dia no Alabama meninos negros e meninas negras poderão unir as mãos com meninos brancos e meninas brancas como irmãs e irmãos. Eu tenho um sonho hoje!

Eu tenho um sonho que um dia todo vale será exaltado, e todas as colinas e montanhas virão abaixo, os lugares ásperos serão aplainados e os lugares tortuosos serão endireitados e a glória do Senhor será revelada e toda a carne estará junta.

Esta é nossa esperança. Esta é a fé com que regressarei para o Sul. Com esta fé nós poderemos cortar da montanha do desespero uma pedra de esperança. Com esta fé nós poderemos transformar as discórdias estridentes de nossa nação em uma bela sinfonia de fraternidade. Com esta fé nós poderemos trabalhar juntos, rezar juntos, lutar juntos, para ir encarcerar juntos, defender liberdade juntos, e quem sabe nós seremos um dia livre. Este será o dia, este será o dia quando todas as crianças de Deus poderão cantar com um novo significado.

"Meu país, doce terra de liberdade, eu te canto.

Terra onde meus pais morreram, terra do orgulho dos peregrinos,

De qualquer lado da montanha, ouço o sino da liberdade!"

E se a América é uma grande nação, isto tem que se tornar verdadeiro.

E assim ouvirei o sino da liberdade no extraordinário topo da montanha de New Hampshire.

Ouvirei o sino da liberdade nas poderosas montanhas poderosas de Nova York.

Ouvirei o sino da liberdade nos engrandecidos Alleghenies da Pennsylvania.

Ouvirei o sino da liberdade nas montanhas cobertas de neve Rockies do Colorado.

Ouvirei o sino da liberdade nas ladeiras curvas da Califórnia.

Mas não é só isso. Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Pedra da Geórgia.

Ouvirei o sino da liberdade na Montanha de Vigilância do Tennessee.

Ouvirei o sino da liberdade em todas as colinas do Mississipi.

Em todas as montanhas, ouviu o sino da liberdade.

E quando isto acontecer, quando nós permitimos o sino da liberdade soar, quando nós deixarmos ele soar em toda moradia e todo vilarejo, em todo estado e em toda cidade, nós poderemos acelerar aquele dia quando todas as crianças de Deus, homens pretos e homens brancos, judeus e gentios, protestantes e católicos, poderão unir mãos e cantar nas palavras do velho spiritual negro:

"Livre afinal, livre afinal.

Agradeço ao Deus todo-poderoso, nós somos livres afinal."


Leia uma pequena biografia do autor, pacifista e Prêmio Nobel da Paz de 1964:


"Se você não está pronto para morrer por alguma coisa, você não está pronto para viver". (Martin Luter King Jr.)

17 outubro 2008

Eros e Psique

Pintura: ©Sir John Everett Millais

Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.

Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.

A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.

Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.

Mas cada um cumpre o Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.

E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,

E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia.

Fernando Pessoa

15 outubro 2008

Mestre, meu mestre querido

Fotografia: ©Martine Franck

Mestre, meu mestre querido,
Coração do meu corpo intelectual e inteiro!
Vida da origem da minha inspiração!
Mestre, que é feito de ti nesta forma de vida?
Não cuidaste se morrerias, se viverias, nem de ti nem de nada,
Alma abstracta e visual até aos ossos.
Atenção maravilhosa ao mundo exterior sempre múltiplo,
Refúgio das saudades de todos os deuses antigos,
Espírito humano da terra materna,
Flor acima do dilúvio da inteligência subjectiva...

Mestre, meu mestre!
Na angústia sensacionalista de todos os dias sentidos,
Na mágoa quotidiana das matemáticas de ser,
Eu, escrevo de tudo como um pó de todos os ventos,
Ergo as mãos para ti, que estás longe, tão longe de mim!

Meu mestre e meu guia!
A quem nenhuma coisa feriu, nem doeu, nem perturbou,
Seguro como um sol fazendo o seu dia involuntariamente,
Natural como um dia mostrando tudo,
Meu mestre, meu coração não aprendeu a tua serenidade.
Meu coração não aprendeu nada.
Meu coração não é nada,
Meu coração está perdido.

Mestre, só seria como tu se tivesse sido tu.
Que triste seria como tu se tivesse sido tu.
Que triste a grande hora alegre em que primeiro te ouvi!
Depois tudo é cansaço neste mundo subjectivado,
Tudo é esforço neste mundo onde se querem coisas,
Tudo é mentira neste mundo onde se pensam coisas,
Tudo é outra coisa neste mundo onde tudo se sente.
Depois, tenho sido como um mendigo deixado ao relento
Pela indiferença de toda a vila.
Depois, tenho sido como as ervas arrancadas,
Deixadas aos molhos em alinhamentos sem sentido.
Depois, tenho sido eu, sim eu, por minha desgraça,
E eu por minha desgraça, não sou eu nem outro nem ninguém.
Depois, mas porque é que ensinaste a clareza da vista,
Se não me podias ensinar a ter alma com que a ver clara?
Porque é que me chamaste para o alto dos montes
Se eu, criança das cidades do vale, não sabia respirar?
Porque é que me deste a tua alma se eu não sabia que fazer dela
Como quem está carregado de ouro num deserto,
Ou canta com voz divina entre ruínas?
Porque é que me acordaste para a sensação e a nova alma,
Se eu não saberei sentir, se a minha alma é de sempre a minha?

Prouvera ao Deus ignoto que eu ficasse sempre aquele
Poeta decadente, estupidamente pretensioso,
Que poderia ao menos vir a agradar,
E não surgisse em mim a pavorosa ciência de ver.
Para que me tornaste eu? Deixasses-me ser humano!

Feliz o homem marçano,
Que tem a sua tarefa quotidiana normal, tão leve ainda que pesada,
Que tem a sua vida usual,
Para quem o prazer é prazer e o recreio é recreio,
Que dorme sono,
Que come comida,
Que bebe bebida, e por isso tem alegria.

A calma que tinhas, deste-ma, e foi-me inquietação.
Libertaste-me, mas o destino humano é ser escravo.
Acordaste-me, mas o sentido de ser humano é dormir.


In ©Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)
Antologia Poética (Ulisseia Ed.)

12 outubro 2008

Pegadas na Areia

Fotografia: ©Rogério Felício

Uma noite eu tive um sonho...

Sonhei que estava andando na praia com o Senhor e através do céu, passavam cenas da minha vida.

Para cada cena que passava, percebi que eram deixados dois pares de pegadas na areia: um era meu e o outro era do Senhor.

Quando a última cena passou diante de nós, olhei para trás, para as pegadas na areia e notei que muitas vezes, no caminho da minha vida, havia apenas um par de pegadas na areia.

Notei também que isso aconteceu nos momentos mais difíceis e angustiosos do meu viver. Isso me aborreceu deveras e perguntei então ao Senhor:

- Senhor, Tu me disseste que, uma vez que resolvi te seguir, Tu andarias sempre comigo, em todo o caminho. Contudo, notei que durante as maiores atribulações do meu viver, havia apenas um par de pegadas na areia. Não compreendo porque nas horas em que eu mais necessitava de Ti, Tu me deixaste sozinho.

O Senhor me respondeu:

- Meu querido filho. Jamais eu te deixaria nas horas de provas e de sofrimento. Quando viste, na areia, apenas um par de pegadas, eram as minhas. Foi exatamente aí que eu te carreguei nos braços.

Do livro "Pegadas na areia"
Margareth Fishback Powers
Ed. Fundamento

06 outubro 2008

Com o tempo...

Fotografia: ©Carol Timm

Tenho aprendido com o tempo que a felicidade vibra na freqüência das coisas mais simples. Que o que amacia a vida, acende o riso, convida a alma pra brincar, são essas imensas coisas pequeninas bordadas com fios de luz no tecido áspero do cotidiano. Como o toque bom do sol quando pousa na pele. A solidão que é encontro. O café da manhã com pão quentinho e sonho compartilhado. A lua quando o olhar é grande. A doçura contente de um cafuné sem pressa. O trabalho que nos erotiza. Os instantes em que repousamos os olhos em olhos amados. O poema que parece que fomos nós que escrevemos. A força da areia molhada sob os pés descalços. O sono relaxado que põe tudo pra dormir. A presença da intimidade legítima. A música que nos faz subir de oitava. A delicadeza desenhada de improviso. O banho bom que reinventa o corpo. O cheiro de terra. O cheiro de chuva. O cheiro do tempero do feijão da infância. O cheiro de quem se gosta. O acorde daquela risada que acorda tudo na gente. Essas coisas. Outras coisas. Todas, simples assim.


©Ana Jácomo





Djavan / B Guedes - Amor de Índio

25 setembro 2008

Canção da tarde no campo

Fotografia: ©Luis Zilhao

Caminho do campo verde
estrada depois de estrada.
Cerca de flores, palmeiras,
serra azul, água calada.

Eu ando sozinha
no meio do vale.
Mas a tarde é minha.

Meus pés vão pisando a terra
Que é a imagem da minha vida:
tão vazia, mas tão bela,
tão certa, mas tão perdida!

Eu ando sozinha
por cima de pedras.
Mas a tarde é minha.

Os meus passos no caminho
são como os passos da lua;
vou chegando, vai fugindo,
minha alma é a sombra da tua.

Eu ando sozinha
por dentro de bosques.
Mas a fonte é minha.

De tanto olhar para longe,
não vejo o que passa perto,
meu peito é puro deserto.
Subo monte, desço monte.

Eu ando sozinha
ao longo da noite.
Mas a estrela é minha.

©Cecília Meireles

06 setembro 2008

Caminho pelo lado da rebentação das ondas

Pintura: ©Adriana Franciss

Caminho pelo lado da rebentação das ondas ―
o litoral guarda segredo dos meus passos entre
as redes de sal trazidas pelos barcos
e o labirinto das algas ainda agora oferecidas

à praia. Sinto-me à mercê das falésias a riscar
o teu nome na areia; e é como se lentamente
pronunciasse um chamamento triste a que ninguém
acode. Fez-se tarde para os lamentos das sereias:

agora as marés dobam novelos de espuma à roda
dos meus pés, as águas já não transportam
a minha voz, a perder-se sobre as dunas
que os ventos vão desbastando devagar

ao cair da noite. Tenho sempre medo que não voltes.

©Maria do Rosário Pedreira


Sobre a Pintura: Adriana é minha amiga há muitos anos e recentemente começou a pintar. Alguns trabalhos já foram premiados e fico muito feliz que um deles possa estar aqui no blog para que mais amigos conheçam um pouco deste belo trabalho.

Quem quiser ver outros quadros da autora é só acessar aqui: Adriana Franciss

30 agosto 2008

Qual a coisa mais importante da vida?

Pintura: ©Roger Bransemer

Qual a coisa mais importante da vida? A vida. Seus sonhos. Sua felicidade. Sua alegria. Um sorriso. Um olhar. Uma brisa...

“A vida que não é refletida não merece ser vivida”(Sócrates).

Nós temos a necessidade de descobrir quem somos e por que vivemos. Tomamos consciência de nossa condição Platão acreditava que a filosofia era fruto da capacidade do homem de se admirar [indignar] com as coisas.

Um filósofo nunca é capaz de se habituar completamente com este mundo. Para ele ou para ela, o mundo continua a ter algo de incompreensível, algo de enigmático, de secreto. Só os filósofos têm ousadia para se lançar nessa jornada rumo aos limites da linguagem e da existência. Um empreendedor é um filósofo. Um filósofo da inovação e da execução. Proteja o que é importante para você. Você é o único responsável por isso.

J. Caetano, filosofando...

Sobre o autor: Caetano é um velho amigo, que um dia nos contou que estava publicando um livro. Foi com muita alegria que recebemos essa notícia! O Vôo do Camaleão é uma história sobre empreendedorismo e pode ser adquirido pelo site do autor: http://www.jcaetano.com.br/


Quem quiser voar um pouco, eu recomendo O Vôo do Camaleão

20 julho 2008

A M I G O S


Aqueles cujas lembranças me vêem sempre a cabeça e ao coração
Cujos rostos vejo mesmo estando distantes
Dos quais as lembranças são sempre gratas e ternas.

Estes companheiros acidentais
Trazidos pela vida, vindo de estradas diferentes
Esse em quem o meu olhar se perdeu
Cujo toque me traz energia.

A eles conto histórias de minha vida
Ouso tantas outras
E distraídos vamos colhendo aprendizado

Amigos novos
Velhos amigos
Com quem já sorri
Chorei

Amigos
Mimos Preciosos
Inteiramente sinceros
Gulosos no querer
Objetos de minha alegria
Sinceros e, verdadeiramente meus
Amigos

Teresa Cristina Fraga

Para a autora desse poema, minha amiga de longe mas que acompanho na poesia
e no comtemplar as pequenas delicadezas da vida e que em poucos dias fará aniversário, desejo um Maravilhoso Dia do Amigo!




Na Semana da AMIZADE, ganhei um lindo presente da nova amiga Gabriella,
e fiquei muito, muito feliz... Os textos dela podem ser lidos no Horizonte Máximo.

Seria difícil, dentre tantos queridos amigos da net,
escolher alguns, então este Selinho será de quem passar aqui
e quiser levá-lo para o seu cantinho na internet!

18 julho 2008

Poema em linha reta

Fotografia: Tiago Barata

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.

Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)

12 julho 2008

Flor do Desejo

Fotografia: ©Carol Timm

A flor do desejo e do maracujá
Eu também quero beijar...
Haja fogo, haja guerra, haja a guerra que há
Eu também quero beijar
Do Farol da Barra ao Jardim de Alá
Eu também quero beijar
De pele morena daquela acolá
Eu também quero beijar


Beijo a flor, mas a flor que eu desejo eu não posso beijar
Ai ai amor, haja fogo, haja guerra, haja guerra, o que há.
Teu cheiro é o marinheiro do barco fantasma que vai me levar
Mundo inteiro, haja fogo, haja guerra, haja guerra, o que há
Teu cheiro


©Cidade Negra

25 junho 2008

Perguntaram ao Dalai Lama

Fotografia: ©António Guimarães


- Dalai Lama, o que mais te surpreende na humanindade?

- Os homens...

Porque perdem a saúde para juntar dinheiro, depois perdem o dinheiro para recuperar a saúde!

E por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem do presente de tal forma que acabam por não viver nem o presente nem o futuro.

Vivem como se nunca fossem morrer... e morrem como se nunca tivessem vivido.

21 junho 2008

Tenho um decote pousado no vestido...

Fotografia: ©Leo Carvalho

Tenho um decote pousado no vestido e não sei se voltas,
mas as palavras estão prontas sobre os lábios como
segredos imperfeitos ou gomos de água guardados para o verão.
E, se de noite as repito em surdina, no silêncio
do quarto, antes de adormecer, é como se de repente
as aves tivessem chegado já ao sul e tu voltasses
em busca desses antigos recados levados pelo tempo:

Vamos para casa? O sol adormece nos telhados ao domingo
e há um intenso cheiro a linho derramado nas camas.
Podemos virar os sonhos do avesso, dormir dentro da tarde
e deixar que o tempo se ocupe dos gestos mais pequenos.

Vamos para casa. Deixei um livro partido ao meio no chão
do quarto, estão sozinhos na caixa os retratos antigos
do avô, havia as tuas mãos apertadas com força, aquela
música que costumávamos ouvir no inverno. E eu quero rever
as nuvens recortadas nas janelas vermelhas do crepúsculo;
e quero ir outra vez para casa. Como das outras vezes.

Assim me faço ao sono, noite após noite, desfiando a lenta
meada dos dias para descontar a espera. E, quando as crias
afastarem finalmente as asas da quilha no seu primeiro voo,
por certo estarei ainda aqui, mas poderei dizer que, pelo
menos uma ou outra vez, já mandei os recados, já da minha
boca ouvi estas palavras, voltes ou não voltes.

©Maria do Rosário Pedreira

Em "A Casa e o Cheiro dos Livros"


Este e outros poemas dessa maravilhosa poetisa portuguesa, que passerei a publicar sempre na Casa de Leitura é desse livro lindo, que veio de longe.

"A Casa e o Cheiro dos Livros" saiu das prateileiras da FNAC de Lisboa para as mãos da minha amiga Marilac, que lá esteve no mês de Maio de 2008. Então voou de avião para Fortaleza e de lá veio numa linda encomenda pelo correio para mim.

Por esse e tantos outros motivos foi mais difícil escolher o primeiro poema do livro para publicar. Embora eu já esteja até relendo esse livro maravilhoso, que é muito especial para mim.

A Mari publica no Sentimentos e Palavras e neste momento tem um post lindo sobre Aveiro, um dos belos lugares visitados por ela na recente viagem a Portugal.


15 junho 2008

TESTAMENTO

Fotografia: ©Reuters

Deixo-te
os olhos do mar
e o instante
que se ergue,
sustentando luz;

a singeleza
das flores,
a melodia dos ventos
e as palavras
que, em tempo,
não te puderam ser ditas.

A lua brilhará para ti
no absoluto silêncio
das linguagens eternas.

E teu olhar,
transcendendo as linhas do
horizonte,
repousará no recôndito espaço imaginado
desses versos que te faço.

©Rose

Do lindo blog... Eternessências


Ceumar - Cantiga

12 junho 2008

Moro na possibilidade

Pintura: ©Iman Maleki

Moro na possibilidade
Casa mais bela que a prosa,
Com muito mais janelas
E bem melhor, pelas portas

De aposentos inacessíveis
Como são, para o olhar, os cedros,
E tendo por forro perene
Os telhados do céu

Visitantes, só os melhores;
Por ocupação, só isto:
Abrir amplamente minhas mãos estreitas
Para agarrar o paraíso

©Emily Dickinson

Em "Poemas Escolhidos"


10 junho 2008

Imagem

Fotografia: ©Guilherme Limas

Quem de repente o susto de um encanto me impõe,
um tão súbito encanto
que é espanto e som,
quem meu nome murmura
e de repente muda
todo o tom de uma tarde
com suas voz que arde,
quem suas horas de ouro
vem de passo me abrir
não és tu, com certeza.
É o eterno de ti.

©Renata Pallotini

Em “Chão de Estrelas”

Diana Krall - Autumn Leaves



05 junho 2008

Planeta Água

Fotografia: ©Egretta Garzetta

Planeta Água
Guilherme Arantes

Água que nasce na fonte
Serena do mundo
E que abre um
Profundo grotão
Água que faz inocente
Riacho e deságua
Na corrente do ribeirão...

Águas escuras dos rios
Que levam
A fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias
E matam a sede da população...

Águas que caem das pedras
No véu das cascatas
Ronco de trovão
E depois dormem tranqüilas
No leito dos lagos
No leito dos lagos...

Água dos igarapés
Onde Iara, a mãe d'água
É misteriosa canção
Água que o sol evapora
Pro céu vai embora
Virar nuvens de algodão...

Gotas de água da chuva
Alegre arco-íris
Sobre a plantação
Gotas de água da chuva
Tão tristes, são lágrimas
Na inundação...

Águas que movem moinhos
São as mesmas águas
Que encharcam o chão
E sempre voltam humildes
Pro fundo da terra
Pro fundo da terra...

Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água...(2x)

Água que nasce na fonte
Serena do mundo
E que abre um
Profundo grotão
Água que faz inocente
Riacho e deságua
Na corrente do ribeirão...

Águas escuras dos rios
Que levam a fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias
E matam a sede da população...

Águas que movem moinhos
São as mesmas águas
Que encharcam o chão
E sempre voltam humildes
Pro fundo da terra
Pro fundo da terra...

Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água
Terra! Planeta Água...(2x)

01 junho 2008

Romance

Pintura: ©Toulouse Lautrec

Romance

E cruzam-se as linhas
no fino tear do destino.
Tuas mãos nas minhas.

©Guilherme de Almeida


SECRET GARDEN - Song From a Secret Garden



PS: Descubra um pouco mais de Guilherme de Almeida no RELEITURAS

28 maio 2008

TERNURA

Ilustração: ©Elivia Savadier

Compreende: não é a minha Ternura que te nego.
É antes, a casa que não é minha,
A liberdade que não me deram,
As horas que me arrancaram.
Minha Ternura, essa está intacta,
Ninguém a pode roubar.
É como a Casa que eu sempre sonhei,
Onde viveriam todos os Amigos,
Como a liberdade de andar pelas ruas sem tempo,
Como as horas da noite que eu guardo para os sonhos
Antes de dormir.

©Renata Pallotini

Em
“Chão de Estrelas”


Marisa Monte - Vilarejo

24 maio 2008

Não adormeças

Pintura: Autoria Desconhecida

Não adormeças: o vento ainda assobia no meu quarto
e a luz é fraca e treme e eu tenho medo
das sombras que desfilam pelas paredes como fantasmas
da casa e de tudo aquilo com que sonhes.

Não adormeças já. Diz-me outra vez do rio que palpitava
no coração da aldeia onde nasceste, da roupa que vinha
a cheirar a sonho e a musgo e ao trevo que nunca foi
de quatro folhas; e das ervas húmidas e chãs
com que em casa se cozinham perfumes que ainda hoje
te mordem os gestos e as palavras.

O meu corpo gela à míngua dos teus dedos, o sol vai
demorar-se a regressar. Há tempo para uma história
que eu não saiba e eu juro que, se não adormeceres,
serei tão leve que não hei-de pesar-te nunca na memória,
como na minha pesará para sempre a pedra do teu sono
se agora apenas me olhares de longe e adormeceres.

©Maria do Rosário Pedreira

Em «A Casa e o Cheiro dos Livros»