31 julho 2006

100 anos do MARIO QUINTANA



Gosto tanto do poeta Mario Quintana, que é como se o encontrasse nas esquinas dos livros ou nos cafés de poesia...

Gosto da cor do seu poema azul, do senso de humor de passarinho, sua ingenuidade no olhar de criança ou nas travessuras do vôo de anjo torto em forma de poesia.

Nas andanças pelos muitos sebos de Porto Alegre, minha cidade natal e cidade em que Quintana viveu quase toda a vida - encontrei na Feira do Livro uma pequena preciosidade: “Ora Bolas – Humor Cotidiano de Mario Quintana – 121 Historinhas Compiladas e Adaptadas por Juarez Fonseca.

Vou dividir alguns trechos com vocês:

RIMAS
No atropelamento, Quintana quebrara o fêmur esquerdo e deveria submeter-se a uma cirurgia para colocação de prótese. Os médicos preocupavam-se com a idade dele, 79 anos e anteciparam que a recuperação poderia ser lenta. Ele permaneceria alguns dias no hospital. Paciência, ora bolas.

- Lá vou ter bastante tempo para trabalhar. Só que agora meus poemas vão sair de pé-quebrado...

E ao saber que a prótese seria de platina:
- Ah! Agora sim, vou ser um poeta de valor...

INTERVALO
Para comemorar os 60 anos do poeta, em 1966 a Editora do Autor, do Rio de Janeiro, lançou a Antologia Poética de Mario Quintana, na coleção em que já publicara Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Cecília Meireles, Vinicius de Moraes e outros.

Dois dias antes da tarde de autógrafos do lançamento Quintana foi homenageado em sessão especial na Academia Brasileira de Letras, sendo saudado por seu conterrâneo Augusto Meyer e por Manuel Bandeira. Para a ocasião Bandeira fez um poema que se tornaria célebre, “A Mario Quintana”, aquele dos Quintanares. Foi ele quem escreveu a carta convidando o gaúcho a ir ao Rio para a homenagem.
Quintana respondeu que não era um convite, mas uma ordem. E acrescentou: “Mas você não imagina como sou chato no intervalo dos poemas”.

É dessa época a famosa fotografia em que aparecem juntos, pela primeira e única vez, Quintana, Drummond, Bandeira, Vinicius e o organizador da antologia, Paulo Mendes Campos.

DISTÂNCIAS
Em 1982 Mario viajou muito. Primeiro por “umas dezesseis cidadezinhas” do interior do Rio Grande do Sul, depois foi até Recife, depois Belém do Pará, com escala no Rio. Mal chegado, foi convidado para ir a Capão da Canoa, a pouco mais de uma hora de distância de Porto Alegre. Recusou:
- Não. É muito longe!

CORES
Mais um convite para ir ao interior. Depois do sim do poeta, o satisfeitíssimo secretário municipal de Educação e Cultura combina detalhes da viagem e quer saber se ele tem preferência por alguma marca de automóvel.

- Marca não, a cor sim. Azul.

DE GRAÇA
O primeiro livro que Quintana traduziu para a Editora Globo foi Palavras e Sangue, de Giovanni Papini, no início dos anos 30. Depois seguiram ótimas traduções de Joseph Conrad, André Gilde e outros, até a Globo, confiante, passar-lhe Proust. Escrevendo à mão, traduzia ao correr da pena, como lembra Carlos Reverbel, que dividia uma sala com ele. Era direto, praticamente sem ajuda do dicionário. Um dia ele comentou com Érico Veríssimo (ou teria sido Henrique Bertaso?):
- Estou gostando tanto de traduzir Proust que, se tivesse dinheiro, eu é que pagava para vocês...

NO ESCURO
Nos últimos tempos Mario gostava de ficar deitado no escuro, quieto, e queria que alguém ficasse com ele. Um dia Elena protestou:
- Mas tio, o que eu vou ficar fazendo aqui nesta escuridão?

- Senta aí e simplesmente me adora...

DESVANTAGEM
Quase meia-noite de um dia de inverno, chuva fininha lá fora, e naqueles tempos não havia essa preocupação com crachás, nem seguranças pedindo identidades de visitantes. Mario ainda está na redação quando irrompe um rapaz, de capa de náilon – daquelas que se dobrava até ficaram do tamanho de um envelope.

Pingando água, foi direto a mesa de Mario, deu boa noite e abriu a capa, tirando um bolo de folhas de papel almaço já meio respingadas. Eram sonetos manuscritos. Esclareceu o motivo da visita àquela hora:
- Seu Mario, vim trocar algumas idéias como Senhor.

Impávido o poeta reagiu:
- Não aceito! Vou sair perdendo...

Mas deu sua gargalhada característica e ficou lá, conversando com o sonetista.

23 julho 2006

EU QUISERA

Pintura de Gustav Klimt

Eu quisera que encontrasses
em meus olhos todas as
respostas que não sei te dizer

Eu quisera não precisar
de palavras para que
compreendesses todos os meus pensamentos

Eu quisera que tivesses a total
segurança de sempre e que seja
como for...
A teu lado estarei

Eu quisera que procurasses
dentro de mim tudo o que
ainda não consegui encontrar

Eu quisera que estivesses
realmente segura de que és tudo para mim...

Eu quisera que todo o meu ser
não tivesse um
segredo para ti...

Eu quisera muitas coisas!
Mas resumindo...
Eu só quero...
Que tu me queiras.

IYAD BEN AHMED