25 dezembro 2009

Poema de Natal

Fotografia: ©Elivia Savadier

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos –
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos –
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte –
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

©Vinicius de Moraes

21 dezembro 2009

Acordar, viver

Fotografia: ©Carol Timm

Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.


Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?


Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?


Ninguém responde, a vida é pétrea.


©Carlos Drummond de Andrade

09 novembro 2009

ARABESCO

Fotografia: ©Carol Timm


A geometria em mosaico
cria o texto labirinto
intrincadíssimos caminhos
complexidades nítidas.

A geometria em florido
plano de minúcias vivas
a geometria toda em fuga
e o texto como em primavera.

A ordem transpondo-se em beleza
além dos planos no infinito
e o texto pleno indecifrado
em mosaico flor ardendo.

O caos domado em plenitude
a primavera.

©Orides Fontela


Neste aniversário ganhei um lindo livro de poemas que veio de longe:
diretamente do caminho da amizade, linkada pelas estradas da internet chegou-me a POESIA REUNIDA de Orides Fontela.
Presente lindo, que BENJA e ROSE me enviaram... Como eu sorri quando abri o pacote!!

07 outubro 2009

Es-QUADROS



Eu ando pelo mundo prestando atenção
Em cores que eu não sei o nome
Cores de Almodóvar
Cores de Frida Kahlo, cores
Passeio pelo escuro
Eu presto muita atenção no que meu irmão ouve
E como uma segunda pele, um calo, uma casca
Uma cápsula protetora
Eu quero chegar antes
Pra sinalizar o estar de cada coisa
Filtrar seus graus
Eu ando pelo mundo divertindo gente
Chorando ao telefone
E vendo doer a fome dos meninos que têm fome
Pela janela do quarto
Pela janela do carro
Pela tela, pela janela
(Quem é ela? Quem é ela?)
Eu vejo tudo enquadrado
Remoto controle
Eu ando pelo mundo
E os automóveis correm para quê?
As crianças correm para onde
Transito entre dois lados, de um lado
Eu gosto de opostos
Expondo meu modo, me mostro
Eu canto para quem?
Eu ando pelo mundo e meus amigos, cadê?
Minha alegria meu cansaço?
Meu amor, cadê você?
Eu acordei
Não tem ninguém ao lado

©Adriana Calcanhoto

01 outubro 2009

Outros Outubros Virão...



O Que Foi Feito Deverá

Milton Nascimento

O que foi feito, amigo,
de tudo que a gente sonhou
O que foi feito da vida,
o que foi feito do amor
Quisera encontrar aquele verso menino
Que escrevi há tantos anos atrás
Falo assim com saudade,
falo assim por saber
Se muito vale o já feito,
mas vale o que será
Mas vale o que será
E o que foi feito é preciso
conhecer para melhor prosseguir
Falo assim sem tristeza,
falo por acreditar
Que é cobrando o que fomos
que nós iremos crescer
Nós iremos crescer,
outros outubros virão
Outras manhãs, plenas de sol e de luz
Alertem todos alarmas
que o homem que eu era voltou
A tribo toda reunida,
ração dividida ao sol
E nossa Vera Cruz,
quando o descanso era luta pelo pão
E aventura sem par
Quando o cansaço era rio
e rio qualquer dava pé
E a cabeça rolava num gira-girar de amor
E até mesmo a fé não era cega nem nada
Era só nuvem no céu e raiz
Hoje essa vida só cabe
na palma da minha paixão
Devera nunca se acabe,
abelha fazendo o seu mel
No pranto que criei,
nem vá dormir como pedra e esquecer
O que foi feito de nós

22 setembro 2009

Primavera

Fotografia: ©Flávio Brandão

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.


©Cecília Meireles

19 setembro 2009

AQUI e AGORA!!

Peguei da Amiga Nanda no Blog: Idade da Pedra

AQUI e AGORA

O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora


Aqui, onde indefinido
Agora, que é quase quando
Quando ser leve ou pesado
Deixa de fazer sentido

Aqui, onde o olho mira
Agora, que o ouvido escuta
O tempo, que a voz não fala
Mas que o coração tributa

O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora

Aqui, onde a cor é clara
Agora, que é tudo escuro
Viver em Guadalajara
Dentro de um figo maduro

Aqui, longe, em Nova Deli
Agora, sete, oito ou nove
Sentir é questão de pele
Amor é tudo que move

O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora

Aqui perto passa um rio
Agora eu vi um lagarto
Morrer deve ser tão frio
Quanto na hora do parto

Aqui, fora de perigo
Agora, dentro de instantes
Depois de tudo que eu digo
Muito embora muito antes

O melhor lugar do mundo é aqui
E agora
O melhor lugar do mundo é aqui
E agora


©Gilberto Gil


13 setembro 2009

MESTRE

Fotografia: ©Carol Timm

Mestre, meu mestre querido!
Coração do meu corpo intelectual e inteiro!
Vida da origem da minha inspiração!
Mestre, que é feito de ti nesta forma de vida?

Não cuidaste se morrerias, se viverias, nem de ti nem de nada,
Alma abstracta e visual até aos ossos,
Atenção maravilhosa ao mundo exterior sempre múltiplo,
Refúgio das saudades de todos os deuses antigos,
Espírito humano da terra materna,
Flor acima do dilúvio da inteligência subjectiva...

Mestre, meu mestre!
Na angústia sensacionalista de todos os dias sentidos,
Na mágoa quotidiana das matemáticas de ser,
Eu, escravo de tudo como um pó de todos os ventos,
Ergo as mãos para ti, que estás longe, tão longe de mim!

Meu mestre e meu guia!
A quem nenhuma coisa feriu, nem doeu, nem perturbou,
Seguro como um sol fazendo o seu dia involuntariamente,
Natural como um dia mostrando tudo,
Meu mestre, meu coração não aprendeu a tua serenidade.
Meu coração não aprendeu nada.
Meu coração não é nada,
Meu coração está perdido.
Mestre, só seria como tu se tivesse sido tu.
Que triste a grande hora alegre em que primeiro te ouvi!
Depois tudo é cansaço neste mundo subjectivado,
Tudo é esforço neste mundo onde se querem coisas,
Tudo é mentira neste mundo onde se pensam coisas,
Tudo é outra coisa neste mundo onde tudo se sente.
Depois, tenho sido como um mendigo deixado ao relento
Pela indiferença de toda a vila.
Depois, tenho sido como as ervas arrancadas,
Deixadas aos molhos em alinhamentos sem sentido.
Depois, tenho sido eu, sim eu, por minha desgraça,
E eu, por minha desgraça, não sou eu nem outro nem ninguém.
Depois, mas por que é que ensinaste a clareza da vista,
Se não me podias ensinar a ter a alma com que a ver clara?
Por que é que me chamaste para o alto dos montes
Se eu, criança das cidades do vale, não sabia respirar?
Por que é que me deste a tua alma se eu não sabia que fazer dela
Como quem está carregado de ouro num deserto,
Ou canta com voz divina entre ruínas?
Por que é que me acordaste para a sensação e a nova alma,
Se eu não saberei sentir, se a minha alma é de sempre a minha?

Prouvera ao Deus ignoto que eu ficasse sempre aquele
Poeta decadente, estupidamente pretensioso,
Que poderia ao menos vir a agradar,
E não surgisse em mim a pavorosa ciência de ver.
Para que me tornaste eu? Deixasses-me ser humano!

Feliz o homem marçano
Que tem a sua tarefa quotidiana normal, tão leve ainda que pesada,
Que tem a sua vida usual,
Para quem o prazer é prazer e o recreio é recreio,
Que dorme sono,
Que come comida,
Que bebe bebida, e por isso tem alegria.

A calma que tinhas, deste-ma, e foi-me inquietação.
Libertaste-me, mas o destino humano é ser escravo.
Acordaste-me, mas o sentido de ser humano é dormir.

©Álvaro de Campos
(heterônimo de Fernando Pessoa)

05 setembro 2009

O quebrador de pedras

Fotografia: Internet

Há muitos anos, vivia na China um jovem chamado Mogo cujo meio de vida era lascar pedra pelas ruas, debaixo de sol e chuva. Seu trabalho era muito cansativo, mas Mogo era são e forte: podia ter sido muito feliz.

No entanto, estava muito descontente com sua sorte e nada mais fazia que queixar-se desde manhã até à noite.

Seu anjo da guarda via com pesar como seu protegido desprezava tudo o que de bom o Senhor lhe havia dado e invejava os que tinham mais que ele, tinha medo que a alma de Mogo se desfigurasse e acabasse por perder-se.

Por isso, uma noite em que o jovem dormia, o anjo estendeu suas grandes asas brancas e elevou-se até o céu. Prosternou-se ante o Senhor e suplicou-lhe que concedesse a Mogo a graça de transformar-se em um poderoso cavaleiro de modo que não tivesse que invejar ninguém e, assim, salvar sua alma.

- Eu o concedo - disse o Senhor. - E de agora em diante Mogo terá tudo o que desejar.

No dia seguinte, Mogo estava entregue a seu trabalho, quando de repente foi envolvido por uma nuvem de poeira levantada por um grupo de cavalos que puxava a carruagem em que viajava um nobre, cujo traje de ouro e pedras preciosas brilhava as sol.

Passando as mãos pelo rosto suarento e sujo, Mogo disse com amargura: - Por que não posso eu ser nobre também?

- Sê-lo-ás! - murmurou seu anjo invisível com imensa alegria.
E Mogo foi dono de um palácio suntuoso e de terras infindas, e teve servidores e cavalos. Costumava sair todos os dias com seu impressionante cortejo para ver como o povo e, especialmente seus antigos companheiros, alinhavam-se respeitosamente à beira da rua.

Numa tarde de verão, percorria o campo com sua escolta. O calor estava insuportável, e debaixo de seu guarda-sol dourado, Mogo transpirava nem mais nem menos do que quando lascava pedras. Pensou então que não era o mais poderoso do mundo: sobre ele havia príncipes, imperadores, e ainda mais alto que estes estava o sol, que a ninguém obedecia e que era o rei do firmamento.

- Ah, anjo meu! Por que não posso ser o sol? - lamentou-se Mogo. - Pois sê-lo-ás! - exclamou o anjo docemente mas, com uma enorme tristeza, ante tanta ambição.

E Mogo foi sol, como era seu desejo.

Enquanto brilhava no céu em todo seu esplendor orgulhoso de poder amadurecer as colheitas e as frutas na terra, ou queimá-las, a seu bel-prazer. Um ponto negro avançava ao seu encontro. A mancha escura crescia conforme avançava. Era uma grande nuvem que estendia seus escuros véus em torno do disco luminoso do sol. O astro rei lançava seus raios luminosos mais potentes contra a nuvem que o ofuscava, tentando incendiá-la. Mas as trevas fizeram-se cada vez mais densas e a noite desceu. - Anjo! - gritou Mogo - A nuvem é mais forte do que eu! Quero ser nuvem! - Sê-lo-ás! - respondeu o anjo.

Mogo, sendo nuvem, desencadeou-se: - Sou poderoso! - gritava, escurecendo o sol. - Sou invencível! - trovejava, perseguindo as ondas. Mas, na costa deserta do oceano erguia-se uma imensa rocha de granito, tão velha como o mundo. E a Mogo parecia que a rocha o desafiava e encadeou uma terrível tempestade. As ondas, enormes e furiosas, golpeavam a rocha como a querer arrancá-la do solo e atirá-la no fundo do mar. Mas, firme e impassível, ali estava a rocha.
- Anjo! - soluçava Mogo, - a rocha é mais forte que a nuvem! Quero ser rocha. E Mogo foi rocha.

- Quem poderá vencer-me agora? - perguntava a si mesmo.
Certa manhã, Mogo sentiu uma lancetada aguda em suas entranhas de pedra, e em seguida uma dor profunda como se uma parte de seu corpo de granito estivesse sendo dilacerada. Logo ouviu golpes surdos, insistentes, e novamente a dor lancinante... Louco de espanto gritou:
- Alguém está matando-me anjo! Quero ser como ele! - E sê-lo-ás! - exclamou o anjo chorando.

E foi assim que Mogo voltou a lascar pedras.

História da Cultura Chinesa

25 agosto 2009

Passará


Passerà:

Le canzoni non si scrivono
ma nascono da sé
son le cose che succedono
ogni giorno intorno a noi
le canzoni basta coglierle
ce n'e' una anche per te
che fai più fatica a vivere
e non sorridi mai.


le canzoni sono zingare
e rubano poesie
sono inganni come pillole
della felicità
le canzoni non guariscono
amori e malattie
ma quel piccolo dolore
che l'esistere ci da'
passerà, passerà
se un ragazzo e una chitarra sono li
come te, in città
a guardare questa vita che non va
che ci ammazza d'illusioni
e con l'età delle canzoni


passerà su di noi
finiremo tutti in banca prima o poi
coi perché, i chissà
e le angosce di una ricca povertà
a parlare degli amori che non hai
a cantare una canzone che non sai come fa
perché l'hai perduta dentro
e ti ricordi solamente


passerà ....
in un mondo di automobili
e di gran velocità
per chi arriva sempre ultimo
per chi si dice addio
per chi sbatte negli ostacoli
della diversità
le canzoni sono lucciole
che cantano nel buio
passerà prima o poi
questo piccolo dolore che c'e' in te
che c'e' in me, che c'e' in noi
e ci fa sentire come marinai
in balia del vento e della nostalgia
a cantare una canzone che non sai
come fa
ma quel piccolo dolore che sia odio, o che sia amore


passerà
passerà, passerà
anche se farai soltanto la la la
passerà, passerà
e a qualcosa una canzone servirà
se il tuo piccolo dolore
che sia odio o che sia amore
passerà

19 agosto 2009

CARTA

Fotografia: ©Carol Timm

Há muito tempo, sim, que não te escrevo.
Ficaram velhas todas as notícias.
Eu mesmo envelheci: Olha, em relevo,
estes sinais em mim, não das carícias

(tão leves) que fazias no meu rosto:
são golpes, são espinhos, são lembranças
da vida a teu menino, que ao sol-posto
perde a sabedoria das crianças.

A falta que me fazes não é tanto
à hora de dormir, quando dizias
“Deus te abençoe”, e a noite abria em sonho.

É quando, ao despertar, revejo a um canto
a noite acumulada de meus dias,
e sinto que estou vivo, e que não sonho.


©Carlos Drummond de Andrade
Lição de Coisas

17 agosto 2009

Amigo é CASA


Amigo é Casa

Compositor: Capiba / Hermínio Bello De Carvalho

Amigo é feito casa que se faz aos poucos
e com paciência pra durar pra sempre
Mas é preciso ter muito tijolo e terra
preparar reboco, construir tramelas
Usar a sapiência de um João-de-barro
que constrói com arte a sua residência
há que o alicerce seja muito resistente
que às chuvas e aos ventos possa então a proteger
E há que fincar muito jequitibá
e vigas de jatobá
e adubar o jardim e plantar muita flor toiceiras de resedás
não falte um caramanchão pros tempos idos lembrar
que os cabelos brancos vão surgindo
Que nem mato na roceira
que mal dá pra capinar
e há que ver os pés de manacá
cheínhos de sabiás
sabendo que os rouxinóis vão trazer arrebóis
choro de imaginar!
pra festa da cumieira não faltem os violões!
muito milho ardendo na fogueira
e quentão farto em gengibre
aquecendo os corações
A casa é amizade construída aos poucos
e que a gente quer com beira e tribeira
Com gelosia feita de matéria rara
e altas platibandas, com portão bem largo
que é pra se entrar sorrindo
nas horas incertas
sem fazer alarde, sem causar transtorno
Amigo que é amigo quando quer estar presente
faz-se quase transparente sem deixar-se perceber
Amigo é pra ficar, se chegar, se achegar,
se abraçar, se beijar, se louvar, bendizer
Amigo a gente acolhe, recolhe e agasalha
e oferece lugar pra dormir e comer
Amigo que é amigo não puxa tapete
oferece pra gente o melhor que tem e o que nem tem
quando não tem, finge que tem,
faz o que pode e o seu coração reparte que nem pão.

10 agosto 2009

Viajar...

Fotografia em Olinda: ©CAROL TIMM


Viajar é trocar a roupa da alma.

©Mario Quintana

01 agosto 2009

Canto de Ariana: Canção IV




Do Álbum: Ode Descontínua e Remota para Flauta e Oboé
- De Ariana para Dionísio

Poemas de Hilda Hilst

Música de Zeca Baleiro

Intérprete:
Jussara Silveira

31 julho 2009

A Pantera



(No Jardin des Plantes, Paris)

De tanto olhar as grades seu olhar
esmoreceu e nada mais aferra.
Como se houvesse só grades na terra:
grades, apenas grades para olhar.

A onda andante e flexível do seu vulto
em círculos concêntricos decresce,
dança de força em torno a um ponto oculto
no qual um grande impulso se arrefece.

De vez em quando o fecho da pupila
se abre em silêncio. Uma imagem, então,
na tensa paz dos músculos se instila
para morrer no coração.

©Rainer Maria Rilke


(Tradução: Augusto de Campos)

25 julho 2009

A cada dia

Fotografia: ©Carol Timm


'A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade'.

©Carlos Drummond de Andrade


19 julho 2009

Poema do Amor Perfeito

Fotografia: ©Carol Timm

Naquela nuvem, naquela,
mando-te meu pensamento:
que Deus se ocupe do vento.

Os sonhos foram sonhados,
e o padecimento aceito.
E onde estás, Amor-Perfeito?

Imensos jardins da insônia,
de um olhar de despedida
deram flor por toda a vida.

Ai de mim que sobrevivo
sem o coração no peito.
E onde estás, Amor-Perfeito?

Longe, longe, atrás do oceano
que nos meus olhos se aleita,
entre pálpebras de areia...

Longe, longe... Deus te guarde
sobre o seu lado direito,
como eu te guardava do outro,
noite e dia, Amor-Perfeito.

©Cecilia Meireles


11 julho 2009

Navega Coração

Fotografia: ©CAROL TIMM


Nos naufrágios que o destino
Vem tentando me pregar
Vou nadando meus caminhos devagar
Desde os tempos de menino
Aprendí a navegar
Com as bússolas que eu mesmo inventar


Hoje eu sei as armadilhas
E os segredos desse mar
Que viver não é preciso nem será
Tenho os olhos no cruzeiro
As sereias como guia
E Netuno me protege noite e dia
E nem piratas, nem borrascas nem dragões
Vão me impedir de ser feliz
De levantar a minha âncora e partir

Navega coração
As águas desse mar
Voa coração
Prá lá do arco-íris


©Kleiton e Kledir


30 junho 2009

Inverno da Lagoa dos Patos

Fotografia na Lagoa dos Patos - São Lourenço do Sul: ©Carol Timm

“De todos os meios de expressão, a fotografia é o único que fixa para sempre o instante preciso e transitório.

Nós, fotógrafos, lidamos com coisas que estão continuamente desaparecendo e, uma vez desaparecidas, não há mecanismo no mundo capaz de fazê-Ias voltar outra vez.

Não podemos revelar ou copiar uma memória.”

©Henri Cartier-Bresson

13 junho 2009

Je Deviens Immortel dans tes Bras

Ilustração: ©Eng Tay

OVIDE, Les Amours

©Lawrence Durrell

Faltam-nos tempo e o calmo envelhecer,
Memória de amantes mortos, desfeitos,
Embora o sangue nos lábios: você
-Frágil mão, tenebrosa, no meu peito.
O tempo esfuma-se: nas velas da igreja,
E o fumo-sombra ao teu cabelo alcança;
Libera o lábio ardente: o que deseja
Traga a paixão que é bem desesperança.

Deixemos uma lápide à penumbra,
Sorridentes pecados nos comovem:
- E o momento que acaso nos deslumbra
Marque a hora em que Deus nos fez mais jovens.


Tradução de Jorge Wanderley

09 junho 2009

Lao Tsé


"Ser profundamente amado por alguém nos dá força.

Amar alguém profundamente nos dá coragem"



Lao Tsé

31 maio 2009

Retratos

Fotografia: ©Elliott Erwitt

Lembra o vestido de linho que eu vestia?
Naquele dia
estávamos sozinhos na varanda
assim, sozinhos,
e a última luz da tarde estremeceu:
era um transe do tato
um dom do estio
o cio no tapete
e logo a noite.

Lembra a manhã daquele outono frio
no carro leito do trem para o impossível?
Os bailes de fim de ano,
as praias
noites de festa e
as férias
na piazza de San Marco?

Lembra,
lembra de tudo que essas fotos dizem
:
elas nos mostram agora o que ainda somos.

Lembra de tudo aquilo que foi dito
em tantos dias (quantos?)
as frases sussurradas que diziam
as mesmas frases da pele
a ressumar delícias
vivas ao toque
– a nossa pele
que nunca nos falhou suas promessas.

Lembrar é como a flor da tarde
reabrindo
e na varanda
a mesma flor dançando e outra vez
ao vento
nosso desejo insone e insolente
inominado
imenso
e resistente
que se alimenta
de todas as rotinas.

©Adelaide Amorim

Do lindo blog: Inscrições


19 maio 2009

Sorria...

Smile

Smile, tho' your heart is aching,
Smile, even tho' it's breaking
When there are clouds in the sky,
You'll get by
If you smile
Through your fear and sorrow
Smile ~ and maybe tomorrow
You'll see the sun come shining through
For you.
Light up your face with gladness,
Hide every trace of sadness.
Although a tear
May be ever so near
That's the time you must keep on trying,
Smile ~ what's the use of crying?
You'll find that life is still worthwhile
If you'll just smile.
~interlude~
That's the time you must keep on trying
Smile ~ what's the use of crying?
You'll find that life is still worthwhile
If you'll just smile.

TRADUÇÃO

Sorria

Sorria, embora seu coração esteja doendo.
Sorria, embora esteja se quebrando.
Enquanto houver nuvens
No céu, você sobreviverá

Se você sorrir
Através dos seus medos e tristezas
Sorria, e talvez amanhã
Você veja o sol brilhando para você.

Ilumine seu rosto com felicidade,
Esconda qualquer traço de tristeza,
Embora uma lágrima
Possa estar sempre próxima.
É o momento em que você precisa continuar tentando.
Sorria, qual o motivo de chorar?
Você vai perceber que a vida ainda vale a pena,
Se você sorrir.

16 maio 2009

Quero

Imagem da Internet

Quero ver o sol atrás do muro
quero um refúgio que seja seguro
uma nuvem branca sem pó, nem fumaça
quero um mundo feito sem porta ou vidraça
quero uma estrada que leve à verdade
quero a floresta em lugar da cidade
uma estrela pura de ar respirável
quero um lago limpo de água potável

Quero voar de mãos dadas com você
ganhar o espaço em bolhas de sabão
escorregar pelas cachoeiras
pintar o mundo de arco-íris

Quero rodar nas asas do girassol
fazer cristais com gotas de orvalho
cobrir de flores campos de aço
beijar de leve a face da lua

©Thomas Roth

Elis Regina - Quero


10 maio 2009

Canção Amiga

Ilustração: ©Iman Maleki

Eu preparo uma canção
em que minha mãe se reconheça,
todas as mães se reconheçam,
e que fale como dois olhos.

Caminho por uma rua
que passa em muitos países.
Se não se vêem, eu vejo
e saúdo velhos amigos.

Eu distribuo um segredo
como quem anda ou sorri.
No jeito mais natural
dois carinhos se procuram.

Minha vida, nossas vidas
formam um só diamante.
Aprendi novas palavras
e tornei outras mais belas.

Eu preparo uma canção
que faça acordar os homens
e adormecer as crianças.


©Carlos Drummond de Andrade


Milton Nascimento - Canção Amiga

03 maio 2009

Volver a los 17



Composição: Violeta Parra

Tradução: Milton Nascimento

Volver a los diecisiete después de vivir un siglo
Voltar aos dezessete, depois de viver um ciclo
Es como descifrar signos sin ser sabio competente,
É como decifrar os signos, sem ser sábio ou competente
Volver a ser de repente tan frágil como un segundo
Voltar à ser, de repente, tão frágil em um segundo
Volver a sentir profundo como un niño frente a Dios
Voltar à sentir-se importante como uma criança frente à Deus
Isso é o que sinto eu neste instante fecundo
Isso é o que sinto eu neste grande momento

Se va enredando, enredando
Se vai enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Como um muro, a parede
Y va brotando, brotando
E vai brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como um musgo na pedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si.
Como um musgo na pedra, ah sim, sim, sim...

Mi paso retrocedido cuando el de ustedes avanza
Meu passado retrocede quando o teu avança
El arco de las alianzas ha penetrado en mi nido
O arco das alianças penetrou no meu ninho
Con todo su colorido se ha paseado por mis venas
Com todo seu colorido passeou por minhas veias
Y hasta la dura cadena con que nos ata el destino
E até a dura corrente que ata nossos destinos
Es como un diamante fino que alumbra mi alma serena
É como um diamante valioso que ilumina minha alma serena

Se va enredando, enredando
Se vai enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Como um muro, a parede
Y va brotando, brotando
E vai brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como um musgo na pedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si.
Como um musgo na pedra, ah sim, sim, sim...

Lo que puede el sentimiento no lo ha podido el saber
O que pode o sentimento sem ter podido o saber
Ni el más claro proceder, ni el más ancho pensamiento
Nem o mais claro proceder, nem o mais amplo pensamento
Todo lo cambia al momento cual mago condescendiente
Tudo muda à todo momento, qual mago condescendente
Nos aleja dulcemente de rencores y violencias
Nos afasta docemente de rancores e violências
Solo el amor con su ciencia nos vuelve tan inocentes
Só o amor com sua forma nos transforma tão inocentes

Se va enredando, enredando
Se vai enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Como um muro, a parede
Y va brotando, brotando
E vai brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como um musgo na pedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si.
Como um musgo na pedra, ah sim, sim, sim...

El amor es torbellino de pureza original
O amor é repleto de uma pureza original
Hasta el feroz animal susurra su dulce trino
Até um feroz animal sussurra seu doce trino
Detiene a los peregrinos, libera a los prisioneros
Detem os Peregrinos, Libera os prisioneiros
El amor con sus esmeros al viejo lo vuelve niño
O amor com seus esmeros, volta o velho à criança
Y al malo sólo el cariño lo vuelve puro y sincero
E ao mal, só o carinho lhe transforma em puro e sincero

Se va enredando, enredando
Se vai enredando, enredando
Como en el muro la hiedra
Como um muro, a parede
Y va brotando, brotando
E vai brotando, brotando
Como el musguito en la piedra
Como um musgo na pedra
Como el musguito en la piedra, ay si, si, si.
Como um musgo na pedra, ah sim, sim, sim...

De par en par la ventana se abrió como por encanto
Aos poucos a janela se abrio como por encanto
Entró el amor con su manto como una tibia mañana
Entrou o amor com seu manto como uma linda manhã
Al son de su bella diana hizo brotar el jazmín
Ao som de seu belo dia fez brotar o jasmim
Volando cual serafín al cielo le puso aretes
Voando à qual fim o céu lhe deu
Y mis años en diecisiete los convirtió el querubín.
E meus tempos com 17 lhes converteu em querubim.


02 maio 2009

Bola de Meia, Bola de Gude


Composição: Milton Nascimento

Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu
coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão


Há um passado no meu presente
Um sol bem quente lá no meu quintal
Toda vez que a bruxa me assombra
O menino me dá a mão


E me fala de coisas bonitas
Que eu acredito
Que não deixarão de existir
Amizade, palavra, respeito
Caráter, bondade alegria e amor

Pois não posso
Não devo
Não quero
Viver como toda essa gente
Insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa
normal

Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino
Há um moleque
Morando sempre no meu
coração
Toda vez que o adulto fraqueja
Ele vem pra me dar a mão

22 abril 2009

AFINIDADE

Fotografia: ©Carol Timm

A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, delicado e penetrante dos sentimentos.
O mais independente.
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto, no exato ponto em que foi interrompido.
Afinidade é não haver tempo mediando a vida.
É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo sobre o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.
Ter afinidade é muito raro.
Mas quando existe não precisa de códigos verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento, irradia durante e permanece depois que as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar a um não afim, sai simples e claro diante de alguém com quem você tem afinidade.
Afinidade é ficar longe pensando parecido a respeito dos mesmos fatos que impressionam, comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavra.
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento.
Afinidade é sentir com.
Nem sentir contra, nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo.
Quanta gente ama loucamente, mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado, não para eles próprios.
Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar.
Ou quando é falar, jamais explicar, apenas afirmar.
Afinidade é jamais sentir por.
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.
Compreende sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para poder questionar.
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.
Só entra em relação rica e saudável com o outro, quem aceita para poder questionar.
Não sei se sou claro: quem aceita para poder questionar, não nega ao outro a possibilidade de ser o que é, como é, da maneira que é.
E, aceitando-o, aí sim, pode questionar, até duramente, se for o caso.
Isso é afinidade.
Mas o habitual é vermos alguém questionar porque não aceita o outro como ele é. Por isso, aliás, questiona.
Questionamento de afins, eis a (in)fluência.
Questionamento de não afins, eis a guerra.
A afinidade não precisa do amor. Pode existir com ou sem ele.
Independente dele. A quilômetros de distância.
Na maneira de falar, de escrever, de andar, de respirar.
Há afinidade por pessoas a quem apenas vemos passar, por vizinhos com quem nunca falamos e de quem nada sabemos.
Há afinidade com pessoas de outros continentes a quem nunca vemos, veremos ou falaremos.
Quem pode afirmar que, durante o sono, fluidos nossos não saem para buscar sintomas com pessoas distantes, com amigos a quem não vemos, com amores latentes, com irmãos do não vivido?
A afinidade é singular, discreta e independente, porque não precisa do tempo para existir.
Vinte anos sem ver aquela pessoa com quem se estabeleceu o vínculo da afinidade!
No dia em que a vir de novo, você vai prosseguir a relação exatamente do ponto em que parou.
Afinidade é a adivinhação de essências não conhecidas nem pelas pessoas que as tem.
Por prescindir do tempo e ser a ele superior, a afinidade vence a morte, porque cada um de nós traz afinidades ancestrais com a experiência da espécie no inconsciente.
Ela se prolonga nas células dos que nascem de nós, para encontrar sintonias futuras nas quais estaremos presentes.
Sensível é a afinidade.
É exigente, apenas de que as pessoas evoluam parecido.
Que a erosão, amadurecimento ou aperfeiçoamento sejam do mesmo grau, porque o que define a afinidade é a sua existência também depois.
Aquele ou aquela de quem você foi tão amigo ou amado, e anos depois encontra com saudade ou alegria, mas percebe que não vai conseguir restituir o clima afetivo de antes, é alguém com quem a afinidade foi temporária.
E afinidade real não é temporária. É supratemporal.
Nada mais doloroso que contemplar afinidade morta, ou a ilusão de que as vivências daquela época eram afinidade.
A pessoa mudou, transformou-se por outros meios.
A vida passou por ela e fez tempestades, chuvas, plantios de resultado diverso.
Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças, é conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas, quantos das impossibilidades vividas.
Afinidade é retomar a relação do ponto em que parou, sem lamentar o tempo da separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas a oportunidade dada (tirada) pela vida, para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser, cada vez mais, a expressão do outro sob a forma ampliada e refletida do eu individual aprimorado.

©Arthur da Távola


PS: Eu achei esse maravilhoso texto no blog da Nana Terê e tive que trazer para cá. Foi simplesmente uma questão de AFINIDADE.

18 abril 2009

Com o tempo a gente aprende...

Depois de algum tempo você aprende a diferença,
a sutil diferença, entre dar a mão e acorrentar uma alma.


E você aprende que amar não significa apoiar-se,
e que companhia nem sempre significa segurança.

E começa a aprender que beijos não são contratos
e presentes não são promessas.

E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida
e olhos adiante, com a graça de um adulto
e não com a tristeza de uma criança.

E aprende a construir todas as suas estradas no hoje,
porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos,
e o futuro tem o costume de cair em meio ao vão.

Depois de um tempo você aprende que o sol queima
se ficar exposto por muito tempo.

E aprende que não importa o quanto você se importe,
algumas pessoas simplesmente não se importam...

E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa,
ela vai feri-lo de vez em quando e você precisa perdoá-la por isso.

Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.

Descobre que se leva anos para se construir confiança
e apenas segundos para destruí-la,
e que você pode fazer coisas em um instante,
das quais se arrependerá pelo resto da vida.

Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer
mesmo a longas distâncias.

E o que importa não é o que você tem na vida,
mas quem você é na vida.

E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.

Aprende que não temos que mudar de amigos
se compreendemos que os amigos mudam,
percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa,
ou nada, e terem bons momentos juntos.

Descobre que as pessoas com quem você mais se importa na vida
são tomadas de você muito depressa,
por isso sempre devemos deixar as pessoas que amamos
com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos.

Aprende que as circunstâncias e os ambientes tem influência sobre nós,
mas nós somos responsáveis por nós mesmos.

Começa a aprender que não se deve comparar com os outros,
mas com o melhor que você mesmo pode ser.

Descobre que se leva muito tempo para se tornar a pessoa que quer ser,
e que o tempo é curto.

Aprende que não importa onde já chegou, mas onde está indo,
mas se você não sabe para onde está indo,
qualquer lugar serve.

Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão,
e que ser flexível não significa ser fraco ou não ter personalidade,
pois não importa quão delicada e frágil seja uma situação,
sempre existem dois lados.

Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer,
enfrentando as conseqüências.

Aprende que paciência requer muita prática.

Descobre que algumas vezes a pessoa que você espera que o chute
quando você cai é uma das poucas que o ajudam a levantar-se.

Aprende que maturidade tem mais a ver com os tipos de experiência
que se teve e o que você aprendeu com elas
do que com quantos aniversários você celebrou.

Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.


Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens,
poucas coisas são tão humilhantes e seria uma tragédia
se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando está com raiva tem o direito de estar com raiva,
mas isso não lhe dá o direito de ser cruel.

Descobre que só porque alguém não o ama do jeito que você quer
que ame, não significa que esse alguém não o ama,
pois existem pessoas que nos amam,
mas simplesmente não sabem como demonstrar isso.

Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém,
algumas vezes você tem que aprender a perdoar-se a si mesmo.


Aprende que com a mesma severidade com que julga,
você será em algum momento condenado.

Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido,
o mundo não pára para que você o conserte.

Aprende que o tempo não é algo que possa voltar para trás.

Portanto,plante seu jardim e decore sua alma,
ao invés de esperar que alguém lhe traga flores.

E você aprende que realmente pode suportar...
que realmente é forte, e que pode ir muito mais
longe depois de pensar que não se pode mais.

E que realmente a vida tem valor
e que você tem valor diante da vida!

Nossas dúvidas são traidoras e nos fazem perder o bem
que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar."

© William Shakespeare


10 abril 2009

Tempo de CHOCOLATE!

Imagem da Internet


Chocolate! Chocolate! Chocolate!
Eu só quero chocolate
Só quero chocolate
Não adianta vir com guaraná
Prá mim é chocolate
O que eu quero beber...(2x)

Não quero chá
Não quero café
Não quero coca-cola
Me liguei no chocolate
Só quero chocolate
Não adianta vir com guaraná
Prá mim é chocolate
Que eu quero beber...

Chocolate! Chocolate! Chocolate!

Chocolate! Chocolate! Chocolate!
Eu só quero chocolate
Só quero chocolate
Não adianta vir com guaraná
Prá mim é chocolate
O que eu quero beber...(2x)

Não quero chá
Não quero café
Não quero coca-cola
Me liguei no chocolate
Eu me liguei!
Só quero chocolate
Não adianta vir com guaraná
Prá mim é chocolate
O que eu quero beber...

Chocolate! Chocolate! Chocolate!

-O Senhor aceita um cafezinho?
-Não! Eu quero chocolate!

©TIM MAIA


02 abril 2009

QUEM MORRE?

Pintura: ©Iman Maleki

Morre lentamente
Quem não viaja,
Quem não lê,
Quem não ouve música,
Quem não encontra graça em si mesmo

Morre lentamente
Quem destrói seu amor próprio,
Quem não se deixa ajudar.

Morre lentamente
Quem se transforma em escravo do hábito
Repetindo todos os dias os mesmos trajetos,
Quem não muda de marca,
Não se arrisca a vestir uma nova cor ou
Não conversa com quem não conhece.

Morre lentamente
Quem evita uma paixão e seu redemoinho de emoções,
Justamente as que resgatam o brilho dos
Olhos e os corações aos tropeços.

Morre lentamente
Quem não vira a mesa quando está infeliz
Com o seu trabalho, ou amor,
Quem não arrisca o certo pelo incerto
Para ir atrás de um sonho,
Quem não se permite, pelo menos uma vez na vida,
Fugir dos conselhos sensatos...

Viva hoje !
Arrisque hoje !
Faça hoje !
Não se deixe morrer lentamente !

NÃO SE ESQUEÇA DE SER FELIZ

©Martha Medeiros

26 março 2009

VINCENT

E como hoje foi dia de Exposição no Forte de Copacabana...
nada melhor do que uma boa canção
e belas pinturas para celebrar esta noite especial!!

VINCENT... por Don McLean...



E com Vonda Shepard... noutra belíssima composição
de voz e imagens!

21 março 2009

Que seu dia seja cheio de poesia!

Pintura recebida por e-mail... desconheço a autoria!


Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo.


E que posso evitar que ela vá a falência.


Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver
apesar de todos os desafios, incompreensões e períodos de crise.


Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e
se tornar um autor da própria história.


É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar
um oásis no recôndito da sua alma .


É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.

Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.

É saber falar de si mesmo.

É ter coragem para ouvir um 'não'.

É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou construir um castelo...

©Fernando Pessoa
(Lisboa, 13 de Junho de 1888 - Lisboa, 30 de Novembro de 1935)

17 março 2009

Agora eu sou uma estrela!

“Agora o braço não é mais o braço erguido num grito de gol.

Agora o braço é uma linha, um traço, um rastro espelhado e brilhante. E todas as figuras são assim: desenhos de luz, agrupamentos de pontos, de partículas, um quadro de impulsos, um processamento de sinais. E assim – dizem – recontam a vida.

Agora retiram de mim a cobertura da carne, escorrem todo o sangue, afinam os ossos em fios luminosos e aí estou, pelo salão, pelas casas, pelas cidades, parecida comigo. Um rascunho. Um forma nebulosa, feita de luz e sombra. Como uma estrela.

Agora eu sou uma estrela!”


Elis Regina






Como a Adelaide, minha amiga do Umbigo do Sonho lembrou bem, hoje, dia 17 de março, era aniversário da Elis Regina.

Eu também sou fã daquela VOZ Maravilhosa, daquele brilho de ESTRELA que Elis transmite até hoje, quando a ouvimos cantar...



13 março 2009

II Semana da Poesia - RIO, a CAPITAL da POESIA



Começa HOJE, dia 13.03.2009,

a II Semana da Poesia no Rio de Janeiro!


PARTICIPE !!


Veja toda a PROGRAMAÇÃO ... neste LINK

08 março 2009

Dá-me a tua mão...

Fotografia: ©J. Pedro Martins

Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.


De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.


Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio.

©Clarice Lispector


FELIZ DIA INTERNACIONAL DA MULHER PARA VOCÊ!

25 fevereiro 2009

As crianças aprendem o que vivenciam

Fotografia: Internet

Se as crianças vivem ouvindo críticas, aprendem a ordenar.
Se convivem com hostilidade, aprendem a brigar.
Se as crianças vivem com medo, aprendem a ser medrosas.
Se as crianças convivem com a pena, aprendem a ter pena de si mesmas.
Se vivem sendo ridicularizadas, aprendem a ser tímidas.
Se convivem com a inveja, aprendem a invejar.
Se vivem com vergonha, aprendem a sentir culpa.
Se vivem sendo incentivadas, aprendem a ter confiança em si mesmas.
Se as crianças vivenciam a tolerância, aprendem a ser pacientes.
Se vivenciam os elogios, aprendem a apreciar.
Se vivenciam a aceitação, aprendem a amar.
Se vivenciam a aprovação, aprendem a gostar de si mesmas.
Se vivenciam o reconhecimento, aprendem que é bom ter um objetivo.
Se as crianças vivem partilhando, aprendem o que é generosidade.
Se convivem com a sinceridade, aprendem a veracidade.
Se convivem com a equidade, aprendem o que é justiça.
Se convivem com a bondade e a consideração, aprendem o que é respeito.
Se as crianças vivem com segurança, aprendem a ter confiança em si mesmas e naqueles que a cercam.
Se as crianças convivem com a afabilidade e a amizade, aprendem que o mundo é um bom lugar para se viver.


©Dorothy Law Nolte


É Co-autora do livro: "As crianças aprendem o que vivenciam -
o poder do exemplo dos pais na educação dos filhos"
Dorothy Law Nolte e Rachel Harris

Gonzaguinha - Caminhos do coração