25 dezembro 2009

Poema de Natal

Fotografia: ©Elivia Savadier

Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados
Para chorar e fazer chorar
Para enterrar os nossos mortos –
Por isso temos braços longos para os adeuses
Mãos para colher o que foi dado
Dedos para cavar a terra.

Assim será a nossa vida:
Uma tarde sempre a esquecer
Uma estrela a se apagar na treva
Um caminho entre dois túmulos –
Por isso precisamos velar
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.

Não há muito que dizer:
Uma canção sobre um berço
Um verso, talvez, de amor
Uma prece por quem se vai –
Mas que essa hora não esqueça
E por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre
Para a participação da poesia
Para ver a face da morte –
De repente nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte, apenas
Nascemos, imensamente.

©Vinicius de Moraes

2 comentários:

Marilac disse...

Carol,
Esse poema fala de morte ao mesmo tempo nos inspira a valorizar a vida!
É preciso focar nas coisas boas, nas belezas simples da vida e assim as dores do caminho não irão nos magoar ao ponto de esquecermos de apreciar os bons momentos que por certo virão.
Existem milagres , existe poesia

bjs
Marilac

batista disse...

agora vejo o quanto o Poetinha inda tem por nos mostrar, sim, pois não conhecia esse poema.
grato, de coração, pela partilha.
feliz Ano Novo!