20 dezembro 2008

A música de cada um

Ilustração: ©Elivia Savadier

Há no coração de cada um de nós, por essência, uma música que é somente nossa, inigualável, intransferível. Por várias razões, conhecidas ou não, às vezes aprendemos desde muito cedo a diminuir, gradativamente, o seu volume e a inventar ruídos que nada tem a ver com ela para nos relacionarmos com nós mesmos e com os outros. Até que chega um tempo em que desaprendemos a entrar no nosso próprio coração para ouvi-la e, porque não passeamos mais nele, porque não a ouvimos mais, não é raro esquecermos completamente que ela existe. Mas, como toda ignorância, toda indiferença, toda confusão, não são capazes de apagar a beleza original dessa partitura impressa na alma, ela continua tocando, ainda que de forma imperceptível. Continua tocando, à espera do dia em que, de novo ou pela primeira vez, possamos aumentar o seu volume, trazê-la à tona, compartilhá-la. Continua tocando, e alguns são capazes de ouvi-la mesmo quando não conseguimos.

Todo encontro genuíno de amor é também o encontro de duas pessoas que conseguem ouvir a música uma da outra e sentir alegria e descanso com aquilo que ouvem. Conseguem ouvir, não importa quantos ruídos tenham inventado pelo caminho, tantas vezes para se proteger da dor afastando a vida.

©Ana Jácomo


3 comentários:

Melissa disse...

Carol, que texto lindo!

E pensar pessoas em música me deu uma visão diferente dos encontros!

:)

beijos e desejos de uma vida melodiosa!

Sala Amarela do JI Vasco da Gama disse...

Carol, querida,

Um poema de Miguel Torga para te desejar um Feliz Natal.

Feliz Natal!!!

Outro Natal
Outra comprida noite
De consoada
Fria, vazia,
Bonita só de ser imaginada.
Que fique dela ao menos,
Mais um poema breve
Recitado pela neve
A cair, ao de leve,
No telhado.

Anônimo disse...

Adoro Ana Jácomo!