14 março 2011

Uma Arte

Ilustração: ©Slawek Gruca

A arte de perder não é nenhum mistério;
tantas coisas contêm em si o acidente
de perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
a chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:
lugares, nomes, a escala subseqüente
da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império
que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério.

©Elizabeth Bishop

Tradução: Paulo Henriques Britto

Poema postado pelo DIA NACIONAL DA POESIA!

Um comentário:

Marilac disse...

Carol,
Belo poema sobre a arte de perder.
Algumas perdas são mesmo necessárias e é um aprendizado seguir mais leve sem lamentar o que perdemos.
Tenho refletido sobre perdas e danos.

bjs
com carinho,
Msrilac

Liguei na segunda para lhe dar os parabéns pelo dia da poesia.