24 março 2011

Preces de um poeta em fase de berçário

Ilustração: Jessica


que onde houver fronteira,
eu tenha muita asa!
que carolina consiga encontrar
sua sombrinha cor-de-rosa
perdida pela casa!


pois, antes, em mim havia
um acúmulo de silêncios,
uma demora profunda
do punhal no peito,
uma dor-dor como a de um
caminhão de crianças
caindo na ribanceira,


mas hoje nada temo:
nem um trem de ferro dentro da insônia
nem um avião dentro da turbulência


embora eu não me veja como
um deus lembrado
das coisas ainda não-inventadas,


vou sendo um poeta impublicável:
à beira de ser tudo,
consigo ser só
quase


– embora, por vezes, feliz
como o primeiro cego
a ouvir gramofone

©Wilson Nanini

Ler mais poesia sua em http://wilsonnanini.blogspot.com/

Poema encontrado no ótimo blog: http://acasaquecaminha.blogspot.com/

Um comentário:

jorgil disse...

Que rico poema. Quero mais!