10 abril 2010

A pele cor-de-rosa da chuva

Fotografia: ©Carol Timm

Todo ser humano tem direito constitucional de andar nas nuvens. A sentimental algaravia. Ah, um dia pra andar por aí. O que ela mais gosta. As horas difíceis, cotidianas. Poucos momentos de gozo. Vida pequena. Um ermo. O medo, medos. Um dia se deu conta que. Olhou no espelho, estranhou. Quem é essa? Vivia no precavido. Desde que ele, enfim. Adeus, adeuses. Casa vazia. Quireras. Ninguém mais. Nem fio de luz embaixo da porta. Ninguém vem. Solitário coração no meio dos corvos. Noites em claro, sede. Nem Deus sabe quanto. A solidão pintada na cara. Ocos dias. Bem-vindo, vento do rio. Na chuva sente-se protegida. Sai a divagar caminhos molhados. Os longes. Peixes coloridos no ar. Sopram os quandos. Moças saltam das janelas, invadem as ruas. Anêmonas. Saias flutuam. Sombrinhas voam. A esperança. Ninguém pode sem, nem ela nem. Se fossem horas a essa hora. Se a solitude. Instantes migalhas são. Breves eternidades. Felicidade é relâmpago. Farândola no coração. A pele cor-de-rosa da chuva. Outono, outonos.

© Jorge Adelar Finatto

Nenhum comentário: