15 novembro 2007

Tempo


A mim que desde a infância venho vindo
como se o meu destino
fosse o exato destino de uma estrela
apelam incríveis coisas:
pintar as unhas, descobrir a nuca,
piscar os olhos, beber.
Tomo o nome de Deus num vão.
Descobri que a seu tempo
vão me chorar e esquecer.
Vinte anos mais vinte é o que tenho,
mulher ocidental que se fosse homem
amaria chamar-se Eliud Jonathan.
Neste exato momento do dia vinte de julho
de mil novecentos e setenta e seis,
o céu é bruma, está frio, estou feia,
acabo de receber um beijo pelo correio.
Quarenta anos: não quero faca nem queijo. Quero a fome.

Adélia Prado

Um comentário:

Marilac disse...

Carol,
Adélia Prado tem um jeito irreverente de expressar seus sentimentos em poesia.

Fazer 40 anos e continuar com entusiasmo e garra, por isso ela diz quero a fome!

Inspirada pelo seu post,acabei de postar um poema da Lya Luft .

Affonso Romano de Sant'Anna diz lindamente num texto seu que:
"A mulher madura é assim: tem algo de orquídea que brota exclusiva de um tronco, inteira. Não é um canteiro de margaridas jovens tagarelando nas manhãs"

Bjs

Marilac