O Pensador de Rodin
Sós,
Irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
todos passam por nós
e ninguém nos conhece.
Os que passam e os que ficam
todos se desconhecem.
Os astros não se explicam:
arrefecem.
Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de dentro se refracta,
nenhum ser nós se transmite.
Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estemece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.
Dão-se os labios, dão os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como um abraçada rota
dá-se tudo e nada fica.
Mas este íntimo secreto
que no silêncio concentro,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarce,
virgem de mal e de bem,
esta dar-se, este entregar-se,
descobrir-se e desflorar-se
é nosso, de mais ninguém.
Sós,
Irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
todos passam por nós
e ninguém nos conhece.
Os que passam e os que ficam
todos se desconhecem.
Os astros não se explicam:
arrefecem.
Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de dentro se refracta,
nenhum ser nós se transmite.
Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estemece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.
Dão-se os labios, dão os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como um abraçada rota
dá-se tudo e nada fica.
Mas este íntimo secreto
que no silêncio concentro,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarce,
virgem de mal e de bem,
esta dar-se, este entregar-se,
descobrir-se e desflorar-se
é nosso, de mais ninguém.
Poema de António Gedeão (Pseudónimo de Romulo de Carvalho).
Publicado em "Poemas escolhidos", Antologia organizada pelo Autor.
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2 comentários:
Querida Ana,
Gostei imensamente desse poema que me enviaste do António Gedeão. E acho que encontrei uma imagem que combina demais com o momento do belo "Poema de um homem só".
Muito obrigada pela sua contribuição para a Casa de Leitura - fiquei muito feliz!
E vou esperar, claro, pelos poemas para a Casinha de Brinquedo.
Beijos e uma ótima semana para ti!
Carol
Querida amiga
Fiquei orgulhosa por teres publicado...
A imagem está fantasticamente perfeita...
Ficou lindo, ainda mais lindo.
Beijos
Ana
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