23 fevereiro 2011

Hotel Insónia

Imagem selecionada do filme: Asas do Desejo, de Wim Wenders



Gostava do meu buraquinho,
com a janela defronte para a parede de tijolo.
Na porta ao lado havia um piano.
Algumas tardes por mês
um velho aleijado vinha tocar
"My Blue Heaven."


Mas havia, normalmente, sossego.
Cada quarto com a sua aranha no seu pesado sobretudo
A apanhar a sua mosca com uma teia
De fumo de cigarro e devaneios.
Tão escuro,
que não podia ver a minha cara no espelho da barba.


Às 5 da manhã o som de pés descalços lá em cima.
O Cigano que lia a sina,
Cujo estabelecimento ficava à esquina,
A urinar depois de uma noite de amor.
Uma vez, também, o som de uma criança a chorar.
Tão próximo estava, pensei
Por um momento, que era eu quem chorava.

©Charles Simic

Tradução: António Ladeira
Poema publicado no ótimo blog Do trapézio, sem rede

Um comentário:

a casa que caminha disse...

Sempre excelentes as escolhas de Lp e ainda melhor as traduções. Tenho-o sempre de vigia, a este blog, Do trapézio, sem rede.
Quanto ao seu blog, Carol, consigo encontrar-lhe semelhanças com o meu, no tipo de poemas escolhidos, na sua fácil leitura sem perda de qualidade. Com a sua permissão, virei cá buscar alguns para o meu blog.
Abraços e parabéns.