08 setembro 2010

Ponte dos Arcos

Fotografia: ©Manuel Oliveira


Devo ser o mesmo homem
aquele que carrega dentro de si
o que restou dos amigos
que já partiram
devo ser um passageiro em Granada
na tarde em que todos os poetas desapareceram
da face do mundo
devo ser o que se perde
mas não naufraga
num mar de avenidas
devo ser aquele que escapa
de si mesmo
e que nunca mais volta para casa
devo ser alguém
que não lembra da última noite
e dos cantores sob a luz do poste
calados
devo ser um deles
com um cigarro apagado
sentado nas pedras
olhando o mar do Caribe
devo ser o velho do barco
aquele que sempre voltou
devo ser ele
aquele mesmo menino
que monta um proto selvagem
e aposta corrida com o vento
e atravessa os dias
levitando
sobre a ponte dos arcos
e brinca de guerrilheiro
na outra margem do rio

©Lalo Arias
Em Cidade Desaparecida

Outros poemas no blog do autor:  AQUI

Um comentário:

batista disse...

Depois de um período ausente retomo a leitura desse espaço que admiro. Muito por ler. E isso é bom!

Um abraço fraterno.