01 setembro 2010

Introdução à Vida Selvagem



a lanchonete fortemente iluminada
brilhando contra as pistas do aeroporto
onde você chega, malas na mão
sem conhecer ninguém.
o plástico vermelho das paredes
berrando sentenças antigas
te apontando essa noite.
uma noite como outra qualquer
de uma noite que dorme
exceto que você chegou, com um pouco de frio
caminhando entre os bancos vazios, fechando
o casaco
arrastando suas malas até um táxi cansado
que o levará através de tantas avenidas
tantas avenidas
só pra te deixar sozinho com um porteiro envelhecido de sono
que levará suas malas para o quarto
nem que tenha que mover céus e terras para isso.


não, nunca haverá uma noite como essa
em que você olha com olhos modernos para todas as coisas
e elas te olham sem revolta, esperando.
não faz muito o avião sobrevoava essa terra de bravos
a cabine cheirando a cigarro, as luzes de plástico
esse livro sempre em suas mãos
e o outro, o que você não escreveu.
não fosse tarde e ainda falaríamos de outras coisas
da cidade da qual você é dono,
do mar que cruzamos ainda há pouco, pensando em palavras
do nome que te levou através de tantas aventuras
tantas aventuras
só pra te deixar cansado numa lanchonete estranha
onde você se senta sem pressa, adiando a hora do amor.


©Roberto Motta

Introdução à Vida Selvagem
Coleção Ladrões de Fogo
Editora Outras Letras


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