13 junho 2010

Traduzir-se

Fotografia: ©Rodrigo Bela Vista (www.olhares.com)

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.

Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
será arte?

©Ferreira Gullar

2 comentários:

Marilac disse...

Carol,
Gosto deste lindo poema e também dele musicado pelo cantor cearense Fagner.

Ferreira Gullar é um grande poeta, como bem disse a ministra da Cultura de Portugal :
"É para um grande homem da lusofonia que o Prêmio Camões rende homenagem".

bjs
Marilac

Felicidade Clandestina disse...

Gosto tanto deste poema :))



ah, eu tenho algumas estrelas no teto do meu quarto. quando eu apago a luz elas brilham um pouco *.*

o céu daqui virou uma festa, pois eu acabei colocando flores, bichinhos e tudo mais, rsrs.

obrigada por aparecer no meu reino :)
um beijo moça.