30 abril 2012

Sobre as distâncias




"Alguns escrevem pela arte, pela linguagem, pela literatura.
Esses, sim, são os bons.
Eu só escrevo para fazer afagos.
E porque eu tinha de encontrar um jeito de alongar os braços.
E estreitar distâncias.
... E encontrar os pássaros..."

Rita Apoena

11 abril 2012

Sigamos o Cherne


 Fotografia: Jacques Demy - Parapluies De Cherbourg

Sigamos o cherne, minha Amiga!
Desçamos ao fundo do desejo
Atrás de muito mais que a fantasia
E aceitemos, até, do cherne um beijo,
Senão já com amor, com alegria...

Em cada um de nós circula o cherne,
Quase sempre mentido e olvidado.
Em água silenciosa de passado
Circula o cherne: traído
Peixe recalcado...

Sigamos, pois, o cherne, antes que venha,
Já morto, boiar ao lume de água,
Nos olhos rasos de água,
Quando, mentido o cherne a vida inteira,
Não somos mais que solidão e mágoa...

Alexandre O’Neill

08 abril 2012

Haikais de Helena Kolody




Poesia mínima

Pintou estrelas no muro

e teve o céu

ao alcance das mãos.


* * *

"Deus dá a todos uma estrela.

Uns fazem da estrela um sol.

Outros nem conseguem vê-la".


* * *

Quando sonho,

sou outra.

Inauguro-me.


Helena Kolody
 

Feliz Páscoa!

06 abril 2012

Na ribeira deste rio



Na ribeira deste rio
Ou na ribeira daquele
Passam meus dias a fio
Nada me impede, me impele
Me dá calor ou dá frio

Vou vivendo o que o rio faz
Quando o rio não faz nada
Vejo os rastros que ele traz
Numa seqüência arrastada
Do que ficou para trás

Vou vendo e vou meditando
Não bem no rio que passa
Mas só no que estou pensando
Porque o bem dele é que faça
Eu não ver que vai passando

Vou na ribeira do rio
Que está aqui ou ali
E do seu curso me fio
Porque se o vi ou não vi
Ele passa e eu confio

Ele passa e eu confio

Fernando Pessoa