21 abril 2010

Poética I

Pintura: ©Adriana Franciss

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
Oeste é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.

©Vinicius de Moraes


Para Adriana, minha amiga querida,
que pintou o belo quadro que ilustra esse poema!

17 abril 2010

Folhas de Outono



Autumn Leaves

The falling leaves (As folhas caindo)
Drift by the window (Pela janela)
The autumn leaves (As folhas de outono)
Of red and gold (De vermelho e ouro)


I see your lips (Eu vejo seus lábios)
The summer kisses (Os beijos de verão)
The sunburned hands (As mãos queimadas pelo sol)
I used to hold (Eu costumava segurar)


Since you went away (Desde que você foi embora)
The days grow long (Os dias passam devagar)
And soon i'll hear (E logo eu escutarei)
Old winter's song (A antiga canção de inverno)


But i miss you most of all (Mas eu sinto sua falta mais do que tudo)
My darling (Minha querida)
When autumn leaves (Quando as folhas de outono)
Start to fall (Começam a cair).

10 abril 2010

A pele cor-de-rosa da chuva

Fotografia: ©Carol Timm

Todo ser humano tem direito constitucional de andar nas nuvens. A sentimental algaravia. Ah, um dia pra andar por aí. O que ela mais gosta. As horas difíceis, cotidianas. Poucos momentos de gozo. Vida pequena. Um ermo. O medo, medos. Um dia se deu conta que. Olhou no espelho, estranhou. Quem é essa? Vivia no precavido. Desde que ele, enfim. Adeus, adeuses. Casa vazia. Quireras. Ninguém mais. Nem fio de luz embaixo da porta. Ninguém vem. Solitário coração no meio dos corvos. Noites em claro, sede. Nem Deus sabe quanto. A solidão pintada na cara. Ocos dias. Bem-vindo, vento do rio. Na chuva sente-se protegida. Sai a divagar caminhos molhados. Os longes. Peixes coloridos no ar. Sopram os quandos. Moças saltam das janelas, invadem as ruas. Anêmonas. Saias flutuam. Sombrinhas voam. A esperança. Ninguém pode sem, nem ela nem. Se fossem horas a essa hora. Se a solitude. Instantes migalhas são. Breves eternidades. Felicidade é relâmpago. Farândola no coração. A pele cor-de-rosa da chuva. Outono, outonos.

© Jorge Adelar Finatto