21 março 2008

Poeminha Amoroso



Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo...

Cora Coralina

18 março 2008

ALGUÉM PASSOU...


Alguém passou. E a sua sombra,
como um manto que tomba
de um gesto lânguido ficou no meu caminho.

Ora, o sol já se foi e a noite vem devagarinho.
E, no entanto,
a sombra continua,
Nítida e nua,
atirada na terra como um manto.

Faz frio.
Corre pelo meu corpo um áspero arrepio...
E um desejo me vem, tímido e louco,
de agasalhar-me um pouco
nesse manto de sombra morna.

Mas alguém
Voltou na noite pálida:
volta para buscar sua sombra esquecida.

É dia. E, pela estrada melancólica e árida,
vai tremendo de frio a minha vida...


Guilherme de Almeida


Nota sobre esse poema: recentemente comprei meu primeiro livro de poemas de Guilherme de Almeida. Entre muitos outros lindos poemas, esse foi um dos que mais gostei. Infelizmente, ao procurar na internet para ver se já tinha sido publicado, achei um impostor que publicou com seu próprio nome. Será que essas pessoas realmente pensam que ninguém pode descobrir o plágio? Mais do que triste é uma vergonha, e lamentavelmente, isso acontece muito na internet!

14 março 2008

O SONHO

Fotografia de Clarice Lispector


Sonhe com aquilo que você quiser.

Seja o que você quer ser,
porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance
de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.
Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.
E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.
Elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.
Para aqueles que se machucam.
Para aqueles que buscam e tentam sempre.
E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas.

©Clarice Lispector


Este poema foi publicado em homenagem ao DIA NACIONAL DA POESIA!

10 março 2008

[Certa borboleta...]

Fotografia: ©Carol Timm

Certa borboleta pode ser vista
- Graciosa - nos pampas do Brasil,
Somente ao meio-dia em ponto -
Depois, sua liberdade expira.

E uma especiaria, que eclode e fenece,
À mercê de tua colheita -
Como as estrelas que conheceste à noite
E que, pela manhã, te são alheias.


Emily Dickinson

08 março 2008

Segunda Canção do Peregrino

Fotografia: ©Nuno Milheiro

Vencido, exausto, quase morto,
cortei um galho do teu horto
e dele fiz o meu bordão.

Foi minha vista e foi meu tacto:
constantemente foi o pacto
que fez comigo a escuridão.

Pois nem fantasmas, nem torrentes,
nem salteadores, nem serpentes
prevaleceram no meu chão.

Somente os homens, que me viam
passar sozinho, riam, riam,
riam, não sei por que razão.

Mas, certa vez, parei um pouco,
e ouvi gritar:-"Aí vem o louco
que leva uma árvore na mão!"

E, erguendo o olhar, vi folhas, flores,
pássaros, frutos, luzes, cores...
-Tinha florido o meu bordão

Guilherme de Almeida

03 março 2008

A Menina das Três Casas


Foi por ela que um dia eu lhe vi.
Na verdade, fui eu quem lhe chamou.
E alguns dias depois você me viu.
Ou olhou, não sei bem, respondeu-me.

...

Foi logo depois de eu abrir a persiana.
Seu jeitinho doce, palavras cor de mel.
Fez-me ver que a vida é boa e merecida.
Que nada é tão tragédia assim.

...

Tens nome de menina e três casas.
O sino a tilintar e música doce ao fundo.
Imagens de sol, céu azul e o mar do sul.
E o olhar nas muitas entrelinhas.

...

Disse-me que a esperança ainda vive.
Que ainda voa bem lá no alto.
Sobreviveu às intempéries e aos vícios.
E que tudo vale muito a pena.

...

Ela existe sim, bem longe, bem perto.
A menina de palavras doces e de três casas.
Visito-a sempre que abro a janela.
Só para ter um sorriso de orelhas.


Juca Machado

Este lindo poema é um presente pelo aniversário do blog,
feito pelo amigo AQUI!