29 abril 2007

Poema de um homem só

O Pensador de Rodin


Sós,
Irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
todos passam por nós
e ninguém nos conhece.
Os que passam e os que ficam
todos se desconhecem.
Os astros não se explicam:
arrefecem.

Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de dentro se refracta,
nenhum ser nós se transmite.

Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estemece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.

Dão-se os labios, dão os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como um abraçada rota
dá-se tudo e nada fica.

Mas este íntimo secreto
que no silêncio concentro,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarce,
virgem de mal e de bem,
esta dar-se, este entregar-se,
descobrir-se e desflorar-se
é nosso, de mais ninguém.

Poema de António Gedeão (Pseudónimo de Romulo de Carvalho).
Publicado em "Poemas escolhidos", Antologia organizada pelo Autor.

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27 abril 2007

PARADOXO


A dor que abate, e punge, e nos tortura,
que julgamos as vezes não ter cura
e o destino nos deu e nos impôs,

- é pequenina, é bem menor, é até
já não é dor talvez, dor já não é
dividida por dois!

A alegria que as vezes num segundo
nos dá desejos de abraçar o mundo
e nos põe tristes sem querer, depois,

- aumenta, cresce, e bem maior se faz,
já não é alegria é muito mais,
dividida por dois.

Estranha essa aritmética da Vida
nem parece ciência, parece arte,
compreendo a dor menor, se dividida,
não entendo, eh aumentar nossa alegria
se essa mesma alegria se reparte!


J. G. de Araújo Jorge

21 abril 2007

Não quero ver meu lar emparedado...


Não quero ver meu lar emparedado,
nem minhas janelas calafetadas.

Quero sentir as culturas de todas as terras
circulando nele em máxima liberdade.

Repugna-me, porém, que o sopro de algumas delas
me desloque das raízes.

Minha religião não é o credo da clausura.

Comporta em seu seio a mais humilde das criaturas de Deus.

Mas é impermeável a toda a arrogância e a todo o preconceito,
seja ele de raça, religião ou cor.

©Mahatma Gandhi

12 abril 2007

* Todo dia é menos um dia*



Todo dia é menos um dia;
menos um dia para ser feliz;
é menos um dia para dar e receber;
é menos um dia para amar e ser amado;
é menos um dia para ouvir e, principalmente, calar!

Sim, porque calando nem sempre quer dizer
que concordamos com o que ouvimos ou lemos,
mas estamos dando a outrem a chance de pensar,
refletir, saber o que falou ou escreveu.

Saber ouvir é um raro dom, reconheçamos.
Mas saber calar, mais raro ainda.
E como humanos estamos sujeitos a errar.
E nosso erro mais primário, é não saber
Ouvir e calar!

Todo dia é menos um dia para dar um sorriso,
Muitas vezes alguém precisa, apenas de um sorriso
para sentir um pouco de felicidade!

Todo dia é menos um dia para dizer:
- Desculpe, eu errei!
Para dizer:
- Perdoe-me por favor, fui injusto!

Todo dia é menos um dia;
Para voltarmos sobre os nossos passos.
De repente descobrimos que estamos muito longe
E já não há mais como encontrar
onde pisamos quando íamos.
Já não conseguiremos distinguir nossos passos
de tantos outros que vieram depois dos nossos.

E se esse dia chega, por mais que voltemos;
estaremos seguindo um caminho, que jamais
nos trará ao ponto de partida.

Por isso use cada dia com sabedoria.
Ouça e cale se não se sentir bem;
Leia e deixe de lado, outra hora você vai conseguir
interpretar melhor e saber o que quis ser dito.

* * *

"Tenho em mim todos os sonhos do mundo"
Fernando Pessoa